Escrito por Roberto Luiz d´Avila*
A poucos meses da reta de chegada da corrida eleitoral de 2014, pesquisas mostram que a saúde continua a ser tema prioritário para os brasileiros. Independentemente de projetos mirabolantes, os números indicam que o governo ainda não conseguiu melhorar a percepção dos eleitores quanto à qualidade e facilidade de acesso aos serviços de assistência. A crítica permanece a mesma dos meses anteriores aos protestos do primeiro semestre de 2013 e é coerente com a percepção histórica da população sobre esse nó nas políticas públicas sociais. Pelos dados divulgados pelo Ibope, na primeira quinzena de fevereiro, quase metade da população brasileira (49%) diz que melhorar os serviços de saúde deve ser prioridade para o governo federal em 2014.
A pesquisa levantou os problemas do país, dos estados e dos municípios e o que a população considera prioritário para o governo federal.
Não houve mudança de percepção em função de grau de escolaridade e nível de renda familiar. Para todos, a saúde – ou melhor, os problemas que a afetam – lidera a lista do que o brasileiro acha que deve ter prevalência nas políticas do governo federal. Entre os que têm nível superior, 47% acreditam que o tema deve ser priorizado. Esse percentual sobe para 49% entre os que têm até a 4ª série do ensino fundamental. Para quem tem renda familiar de até um salário mínimo, 47% apontam a área como prioridade. O percentual cai para 40% nos que vivem com renda familiar acima de dez salários mínimos.
Na análise regional dos dados, a melhora dos serviços de saúde também está no topo de todos os rankings. Os números não mentem e mostram que o governo federal falha na gestão da saúde. A população percebe o engodo de programas que anunciam o aumento do número de profissionais nas unidades, sem oferecer a estrutura de trabalho e de atendimento há tanto tempo exigida.
Outros dados corroboram o entendimento de que o governo está longe de fazer sua lição de casa. De acordo com levantamento do Conselho Federal de Medicina, com base em informações oficiais, dos R$ 47,3 bilhões gastos com investimentos pela União em 2013, o Ministério da Saúde foi responsável por apenas 8,2% do montante.
Isto significa que obras em rodovias, estádios e mobilidade urbana ficaram à frente da construção, ampliação e reforma de unidades de saúde e da compra de equipamentos médico-hospitalares para atender o Sistema Único de Saúde (SUS).
]A rejeição dos brasileiros às condições impostas à saúde e a comprovação de que a União não gasta reforçam a indignação da sociedade e dos médicos, em especial, com esse estado de coisas. Os conselhos de medicina continuarão a denunciar a incompetência e a cobrar resultados, como se espera de entidades afinadas com sua missão de defender a saúde e fazer o controle social da gestão pública.
A cada dia cresce a convicção de que para solucionar de fato a crise do SUS faz-se necessária uma gestão racional dos recursos públicos e a adoção de medidas de estímulo à migração e à fixação dos médicos brasileiros para áreas de difícil provimento. Neste contexto, defendemos uma carreira pública para o SUS, contribuindo para preencher os vazios assistenciais com médicos bem formados e com condições de bem cumprir o seu papel. Fora desse escopo, a sociedade continuará exposta aos programas temporários, improvisados, de baixa resolução e que têm sua duração atrelada às campanhas eleitorais.
* É presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM).
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