Escrito por João Brainer Clares de Andrade*
No final do último semestre, o Governo Federal decidiu acelerar a expansão de vagas em cursos de Medicina por todo o País. Em feito inicial, foram credenciadas mais de duas mil vagas distribuídas por instituições públicas e privadas. Vale destaque ainda que há anos já há uma expansão pública de vagas a futuros médicos, a despeito do crescente volume de iatrogenias e do mau desempenho de muitas instituições por todo o país.
A justificativa é coerente, mas há erro na solução: interiorizar os profissionais médicos e duplicar a proporção que hoje há quanto à população brasileira. O erro, no entanto, é claro: o crescimento tem obedecido a um ritmo caótico, pouco planejado. Crê-se que a mera oferta de profissionais ao mercado salvará as vidas que se perdem pela falta de estrutura e assistência, em todos os níveis. Parece, assim, ser mais barato: um falso alívio na consciência alheia…
A expansão de vagas é regida por um projeto incoerente: unidades formadoras mal avaliadas ou que não atendem a uma estrutura elementar ganham crédito para formar médicos, que labutam na mais extensa graduação ofertada no País e ainda demandam, na grande maioria das vezes, de formação especializada que pode requerer até mais seis anos.
Assim, a despeito da intenção dos entes públicos, é preciso expandir com responsabilidade, articulando melhorias de estrutura, assistência e gestão. Isoladamente, ofertar mais médicos, abdicando de olhos rígidos sobre a formação, é avolumar um problema, é atentar contra a saúde de milhares de inocentes.
As medidas que beiram a irresponsabilidade, quando há claro pacto de entidades públicas, ratificam famosa e repugnante frase já proferida por políticos no Estado, em que médicos são comparados ao sal: brancos, baratos e de fácil acesso… Agora, em tom ainda pior, parecem acrescer novo predicativo: médicos vindos de tal expansão condenável serão tão danosos quanto o sal…
*João Brainer Clares de Andrade é acadêmico de Medicina da Universidade Estadual do Ceará (UFC).
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