Diante da grave crise humanitária registrada no Rio Grande do Sul (RS) em razão das enchentes, os Conselhos Federal e Regionais de Medicina (CFM/CRMs) iniciaram, no dia 10 de maio, campanha, junto a mais de 570 mil médicos brasileiros, em busca de voluntários para colaborarem com as equipes de saúde em nível local. E a resposta foi imediata: menos de uma se[1]mana depois, quase 3 mil médicos de todo o País já haviam se cadastrado para atuar no estado gaúcho, que registrava, até aquele momento, 617 mil pessoas fora de casa, 151 mortos, 104 desaparecidos e 806 feridos. Ao todo, mais de 2 milhões de pessoas foram afetadas pelas enchentes históricas.
O total de médicos que se inscreveram para ir ao Rio Grande do Sul cresceu ainda mais e, até o fim de maio, chegou a 3,3 mil. A lista de nomes foi entregue pelo presidente do CFM, José Hiran Gallo, ao ministro da Defesa, José Múcio Monteiro. Os dados coletados foram disponibilizados ao Ministério da Defesa para tratativas de logística (deslocamento, hospedagem, alimentação, suporte operacional etc.). As informações também foram encaminhadas ao Ministério da Saúde.
Grande parte dos voluntários é de São Paulo (738), Minas Gerais (329) e do próprio Rio Grande do Sul (264). A maioria (1.498) tem até 35 anos de idade, e 1,6 mil (57%) são mulheres. Há médicos habilitados para os atendimentos básico, especializado, em UTI e medicina legal, entre outros. Além disso, 59% têm experiência em calamidade pública.
Entre os profissionais, mais de 150 são especialistas em cirurgia geral, e 200, em clínica geral. Mais de 26% disseram ter disponibilidade imediata para iniciar os trabalhos voluntários, e 28%, dentro de uma semana. Os médicos também informaram o tempo que podem ficar atuando no Rio Grande do Sul: 28% podem permanecer por até 15 dias; 10% podem ficar até 30 dias; e 18% podem ficar por tempo indeterminado.
Compromisso – Para o presidente do CFM, os médicos brasileiros demonstraram, mais uma vez, que estão atentos às demandas sensíveis do País e dispostos a ajudar a população brasileira sempre que forem chamados, seja onde for e sob quaisquer condições.
“Em apenas sete dias, mais de 2,8 mil médicos se registraram como voluntários para ajudar o Rio Grande do Sul. Depois, felizmente, ainda tivemos muito mais profissionais envolvidos. Estamos falando de um grande número de médicos, que poderão socorrer as vítimas dessa tragédia neste mês. É um grupo qualificado, jovem, disponível e com muita vontade de ajudar”, afirmou Gallo.
José Múcio afirmou: “Vou levar esse documento às mãos do Presidente da República. Vamos obedecer às instâncias hierárquicas dos nossos trabalhos no Rio Grande do Sul, e, com certeza, vamos trabalhar juntos, porque somos responsáveis pela parte logística de toda a operação que está ocorrendo lá”.
Doenças – Os voluntários irão orientar a população e tratar as doenças que surgem devido ao contato com a água das enchentes. Um dos principais problemas é a leptospirose, causada por uma bactéria encontrada na urina do rato e que pode entrar pela pele humana. Se a pessoa tiver contato com água ou lama das enchentes, precisa ficar atenta a sintomas como febre, dor muscular, náuseas e dor de cabeça.
Outra doença com a qual médicos estão preocupados, que pode surgir após o período de chuvas, é a hepatite A, transmitida pela água misturada com esgoto humano. As enchentes também aumentam o risco de diarreia aguda, causada por bactérias, vírus e parasitas, além da febre tifoide, causada pela Salmonella Typhi, bactéria encontrada nas fezes de animais.
Médicos afirmam que é fundamental que se evite contato com águas de enchentes. Caso isso seja inevitável, é recomendável permanecer o menor tempo possível na água ou na lama. Crianças também devem evitar nadar ou brincar nesses fluidos. É recomendável ainda evitar o manuseio de objetos que tenham sido atingidos pela água ou lama e proteger os pés e as mãos com botas e luvas de borracha, ou sacos plásticos duplos.