Escrito por Antonio Carlos Lopes*
Divulgado recentemente, o último relatório da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos traz ao mesmo tempo alegria e tristeza. Embora a taxa de doadores efetivos no último semestre tenha sido 5% superior em relação a igual período anterior, o aumento é insuficiente para reduzir as imensas filas de espera que solapam as esperanças de milhares de pessoas em todo o país.
No Estado de São Paulo, com aumento de 15%, foram registradas as maiores taxas de notificação de potenciais doadores do país. Mas a efetivação destas doações ainda é pequena, não chega a 20%, quando o objetivo é atingir ao menos 50%.
Aguardada por pacientes e familiares como a única saída para insuficiências orgânicas terminais ou cronicamente incapacitantes, a doação de órgãos e tecidos é um gesto simples de solidariedade, inibido, na maioria das vezes, pela absoluta falta de informação.
Profissionais de saúde e demais envolvidos na retirada e no transplante dos órgãos têm se empenhado, mas ainda é preciso muito mais para prover a população das informações necessárias para estimular a doação.
Um bom começo é esclarecer que não são apenas os órgãos, como coração, fígado, rins, pulmão e pâncreas, os itens passíveis de doação. Córnea, pele, osso, medula óssea e sangue de cordão umbilical são também necessários para salvar ou melhorar a vida de muitas pessoas.
Em todos estes casos, a doação de órgãos de pessoas falecidas só é feita mediante autorização da família. Por isso, todos os interessados em doar seus órgãos, devem deixar a família e amigos avisados, ou preparar um documento confirmando esta vontade.
Infelizmente, a autorização ou mesmo a retirada de um órgão não é garantia de um transplante. Para reduzir ao mínimo as chances de rejeição do órgão, muitos detalhes, como idade, peso e tipo sanguíneo, precisam ser inicialmente analisados, verificando a compatibilidade entre receptor e doador, a ser comprovada por meio de exame mais sensível. E nem sempre os primeiros da fila de espera são os mais compatíveis.
A chance de compatibilidade aumenta com os laços familiares. Parentes próximos têm sempre mais chances de estar aptos a doar ou receber uns dos outros. Algumas doações, inclusive, podem ser feitas em vida, como as de rim, partes do fígado e medula óssea. Nestes casos, a lei permite que sejam feitas por pais, filhos, irmãos, avós, tios e primos, desde que estejam em boas condições de saúde, sejam capazes juridicamente e concordem com a cirurgia. Doações entre não-parentes podem ser analisadas e eventualmente autorizadas judicialmente.
Qualquer que seja a dúvida ou imagem negativa com relação ao procedimento, deve ser discutida com seu médico de confiança. O transplante é um procedimento sério, totalmente custeado pelo Sistema Único de Saúde. Milhares de vidas dependem deste ato de solidariedade.
*Antonio Carlos Lopes é presidente da Sociedade Brasileira de clínica Médica (SBCM).
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