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Conselho Federal de Medicina

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Escrito por Bernardo Fernando Viana Pereira*

“Se é conveniente calar-se, não deixa de ser necessário falar”

“A verdade se serve de palavras no mundo, porque sem essas palavras ela permaneceria totalmente desconhecida”

Precisamos ser ouvidos, ao menos, se não nos fizermos compreender: é o que proponho ao bordar o tema, sujeito a interpretações ou contestações, como se põe nesta oportunidade: a dengue. A quem cabe a responsabilidade da epidemia?

É uma questão de honestidade mínima buscar conhecer como se deu a difusão da dengue, quais as fontes, as referências e a quem responsabilizar pela epidemia e suas conseqüências. Na realidade, não foi o atual governo o diretamente responsável por essa epidemia, entretanto, foi leniente, permissivo e conivente em enfrentar o assunto da mais alta importância em saúde pública, de maneira frouxa e em nada profissional.

A dengue, uma epidemia que não assustou a Bahia na década de 1980. Teremos a mesma expectativa nesta década? Pelo andar da carruagem, não! Salvador, na década de 1980, com 0,001% de vetores na capital, não houve casos autóctones por falta de transmissores. No interior, com casos importados, foi imediatamente autorizada a expansão da área de trabalho, por intermédio de levantamento de índice (L.I) em determinados municípios do estado, suspeitos de infestação. Outros estados da Federação que fazem limite com a Bahia e estados do Sudoeste brasileiro, encontravam-se com alto grau de infestação, quando estivemos à frente da Diretoria Regional da SUCAM-BA. Apesar da infestação apresentada, asseguramos à comunidade baiana, da impossibilidade de existência da febre amarela e da dengue, em Salvador, pelo combate ostensivo aos vetares e pela vigilância dos casos de dengue importados de outros estados. Quando da implantação do Plano Econômico do governo Collor de Mello, que tinha como objetivo “enxugar o déficit público” e “controlar a inflação” (?), a exoneração de servidores, a disponibilidade dos mesmos e a desativação da SUCAM foram implementadas, iniciou-se aí a re-infestação. Concretizada a desativação – estando à frente da pasta da Saúde, o ministro Alceni Guerra – eu já não me encontrava mais como diretor do órgão. Lamentei o ocorrido, alertei as autoridades em saúde pública e a população sobre a situação que se abateria no agravamento da re-infestação dos vetores, em relação à saúde dos baianos e dos brasileiros. Não estava fazendo um exercício de futurologia; antevia, pela experiência adquirida nos anos que passei como gestor daquele órgão, o desfecho de uma nova e grave epidemia. Denunciei às autoridades competentes os prejuízos financeiro, econômico e social e a perda de tudo que de melhor o Ministério da Saúde já havia concebido e realizado em toda a sua existência, com a desativação a SUCAM – responsável pela Vigilância e controle dos vetores – no estado da Bahia e todo território nacional. Mais uma vez, as autoridades perdulárias e de pouca visão social acabavam de jogar no lixo o esforço de cada cidadão brasileiro, que contribui de maneira compulsória com os impostos que os governos impõem e não Ihes são devolvidos em forma de benefícios: saúde, educação, segurança, transporte, lazer etc. Naquele instante, a autoridade ministerial acabava de desprezar, na Bahia e no Brasil, doze longos e eficientes anos de trabalho na vigilância e tratamento no controle do Aedes aegypti, favorecendo a sua re-introdução após total erradicação, no ano de 1976. A inação foi a condição primeira para a facilitação maciça da re-introdução do Aedes aegypti do Rio Grande do Norte ao Paraná. Hoje, a expansão rápida dos vetores, está acontecendo em todo território nacional. A condição segunda, foi a não valorização da necessidade de dar continuidade aos trabalhos de campo, a Vigilância, o L.l e o tratamento com inseticidas residuais, constantes do modelo operacional. Apesar do agravamento da situação em diversos estados da Federação, naquela oportunidade, o estado da Bahia apresentava na capital um índice desprezível em relação à presença do vetor. Na época, afirmei, em entrevistas concedidas aos meios de comunicação com o objetivo de tranqüilizar a população, da impossibilidade de termos uma epidemia de dengue na Bahia, uma vez que os índices de infestação assim indicavam, bem como a certeza do trabalho ostensivo que continuávamos desenvolvendo e pela indispensável compreensão e colaboração da comunidade baiana naquele instante de expectativa. Creditávamos o êxito do resultado à dedicação dos Agentes de Saúde, aos Educadores Sanitários, aos Técnicos, enfim, ao conjunto dos servidores do órgão, à população e, com destaque, ao integral apoio dos meios de comunicação de massa: a imprensa escrita, falada e televisiva. Hoje, a coisa mudou e a epidemia bate às nossas portas com propostas de mortes, que já estão acontecendo. Naquela oportunidade, contamos com o decisivo apoio do ministro da Saúde, então deputado federal, Carlos Sant’Anna, baiano, que nos propiciou todas as condições, de trabalho, buscando e conseguindo, junto ao presidente da República, uma verba destinada especificamente à referida endemia. A título de reconhecimento, destacamos também a ação do ministro da Saúde, Professor Roberto Santos – sucessor do ministro Carlos Sant’Anna, que acabava de assumir a pasta da Educação – que, como profissional afeito aos problemas de Saúde Pública, entendeu da necessidade de manter o trabalho que vinha sendo desenvolvido durante os anos anteriores. O alerta não foi ouvido, e a nova re-infestação está acontecendo, com conseqüência catastrófica, por falta de planejamento e de verbas para o controle da epidemia. As autoridades, atordoadas com o número crescente de óbitos e a expansão rápida da epidemia, vêm recorrendo aos gestores de saúde dos estados, pela mobilização, com deslocamento desses profissionais ao Rio de Janeiro, como se os mesmos pudessem, sozinhos, solucionar a questão que já se manifesta por todo território nacional, decorrente da inação dos governos, pela descontinuidade da Vigilância e a conseqüente falta de controle dos vetores. As projeções da epidemia cresceram logaritmicamente e a reprodução dos vetores vem acontecendo sem o rígido controle. A população desatenta às recomendações, ao mesmo tempo assustada pelo clamor estabelecido, recorre, desesperadamente, à presença de médicos de outros estados, para aliviar a dor, o sofrimento e a expectativa de morte dos seus entes queridos: 190 mortes no Rio de Janeiro, até a presente data. Quanto aos médicos, estes não têm faltado, como de costume, com seu apoio e dedicação. Muitos deles, sensibilizados, já haviam se deslocado ao Rio de Janeiro, onde se encontram em plena atividade, no epicentro da epidemia. A falta de dirigentes – na área da saúde – comprometidos com uma estratégia de políticas públicas para a saúde do povo brasileiro, têm deixado a saúde em plano secundário, só comparável ao que ocorre com os países do Terceiro Mundo.

* É conselheiro federal representante do estado da Bahia.

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