CRM Virtual

Conselho Federal de Medicina

Acesse agora
Escrito por José Demir Rodrigues*

O Sistema Único de Saúde (SUS), como está escrito na Constituição, nas leis, resoluções, portarias e normas, é um sistema avançado, bem elaborado e merece elogios na sua formulação. Os princípios que nortearam a sua concepção têm como base a universalidade, integralidade, eqüidade, descentralização, financiamento público e o controle social. No entanto, na prática não funciona como foi previsto e concebido; existem muitas distorções no seu funcionamento e por isso precisa ser repensado e rediscutido no Congresso Nacional.

Um exemplo claro desta distorção é a pactuação intergestores nas comissões bipartite e tripartite; fica muito difícil conciliar os interesses entre as partes e decidir como será a divisão da conta a ser paga pelos serviços prestados. Os municípios de grande porte quase sempre saem perdendo nesta divisão, pois o atendimento é universal (todo cidadão tem acesso garantido por lei em qualquer município do país); a descentralização da gestão dos recursos é danosa, porque o municípios menores recebem os recursos para gestão plena e atendimento integral à saúde , mas nem sempre oferecem e nem pactuam estes serviços com os municípios pólos; assim a demanda de pacientes para estes aumenta, superlotando os ambulatórios e hospitais das grandes cidades sem a contrapartida financeira. O ideal seria o cadastramento universal dos usuários do SUS e o funcionamento eficiente de uma câmara de compensação entre gestores, a exemplo do sistema cooperativo Unimed. No entanto, falta vontade política e administrativa das três esferas de governos,(Federal, Estadual e Municipal) para implantá-la.

O financiamento do SUS é outro complicador para o pleno e efetivo funcionamento do Sistema. A verba destinada para custear a assistência integral à saúde está muito aquém das suas reais necessidades. Nenhuma das três esferas de governos cumpre o que ficou estabelecido na constituição de 1988 e mais recentemente pela emenda constitucional 29 / 2000.

A assistência médica ambulatorial e hospitalar de média e alta complexidade tem custos elevados por conta da evolução da ciência; são imensos os avanços tecnológicos incorporados ao dia-a-dia dos que praticam a ciência médica. Mas o grande desafio para os gestores públicos é colocá-los à disposição da população carente, pois o acesso a essa tecnologia exige recursos financeiros de grande vulto.

As ações básicas de saúde, prestadas nos centros de saúde e unidades do Programa Saúde da Família (PSF), também exigem grande aporte de recursos para promoção à saúde, prevenção, diagnóstico, tratamento e recuperação da clientela que procura estes serviços. Vacinas, exames diagnósticos, medicamentos e despesas com salários e capacitação profissional têm custos elevados.

Como oferecer, com dignidade e qualidade, assistência integral à saúde sem o financiamento devido e necessário ?!

Um estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) mostrou que o gasto Federal com saúde publica em 2004 sofreu redução de 11% em relação a 1995, primeiro ano de consolidação do SUS. Em 1995 gastou-se R$ 200,50 contra R$ 189,50 em 2004. Ainda segundo o IPEA, em 1995, 63% dos gastos com saúde pública eram da União, contra 52,9% em 2002; portanto houve nestes anos aumento dos aportes financeiros de Estados e Municípios.

A precariedade dos direitos trabalhistas na relação de emprego em setores do SUS é vergonhosa. O número de contratados como prestadores de serviços é alarmante, seja no serviço público Federal, Estadual ou Municipal. O exemplo mais gritante é o PSF. O governo Federal criou este programa, fez parcerias com os estados e municípios, e colocou as equipes para trabalhar. O Programa cresceu, deu alguns resultados, mas simplesmente o governo não criou nenhum vínculo empregatício com as equipes. E o que vemos hoje, é que nenhum gestor, seja Federal, Estadual ou Municipal quer assumir este vínculo; as equipes do PSF ficaram então sem nenhum direito trabalhista e sem estabilidade no emprego. Só agora, 15 anos depois, começamos a discutir de forma preliminar e ainda embrionária, as diretrizes básicas para implantação do Plano de Cargos, Carreira e Salários no SUS (PCCS-SUS), unificado para as três esferas de governo. Este é um tema que merece ser abordado em outra oportunidade.

Os valores pagos pela tabela de remuneração do SUS aos médicos e à rede hospitalar / ambulatorial de prestadores de serviços em alguns procedimentos são irrisórios, na sua grande maioria. Esta realidade foi o que levou a rede prestadora ao sucateamento e provocou o descredenciamento ou fechamento de inúmeras unidades hospitalares em todo país. Como exemplo, podemos citar as unidades das Santas Casas de Misericórdias em todos os estados, e a rede hospitalar particular de João pessoa, Campina Grande e outros municípios da Paraíba. Enquanto existe uma enorme carência de leitos hospitalares e serviços ambulatoriais no SUS, é grande o número de leitos e serviços ociosos na rede particular e filantrópica. Os usuários do SUS terminam sendo as principais vítimas do caos que se estabeleceu na gestão dos serviços públicos de saúde em todo o Brasil, sendo-lhes negado assistência médica digna e de qualidade. Os profissionais de saúde também são vítimas, sendo- lhes oferecido salários aviltantes e indignos das responsabilidades assumidas na assistência integral à saúde. Os prestadores também são prejudicados.

Precisamos, pois, repensar e rediscutir o SUS, principalmente a pactuação intergestores nos serviços prestados, e a definição, clara e unificada, das competências de cada esfera de governo na pactuação dos serviços prestados e no financiamento da assistência à saúde. É preciso cumprir o que estabeleceu a constituição de 1988 e regulamentar com urgência a emenda constitucional 29/2000. Faz-se necessário definir o percentual da União no financiamento dos serviços públicos de saúde, e se os gastos com saneamento, com servidores inativos e pensionistas devem ou não serem incluídos no percentual da União, estados e municípios.

Com a precariedade dos serviços prestados, as longas filas de espera nos corredores dos hospitais e ambulatórios, as mortes nas urgências e emergências por falta de equipamentos, medicamentos e materiais básicos; profissionais desmotivados e cansados por exaustivas horas de trabalho, enfim, com exceção de algumas ilhas de excelência, chegamos ao fundo do poço, e o que vemos e sentimos é a proximidade do caos total e absoluto do sistema e das políticas públicas de saúde. O SUS agoniza e a saúde está na UTI. José Demir Rodrigues CRM-PB 2097

* É presidente do Sindicato dos Médicos da Paraíba.

* As opiniões, comentários e abordagens incluidas nos artigos publicados nesta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do Conselho Federal de Medicina (CFM).


 * Os textos para esta seção devem ser enviados para o e-mail imprensa@portalmedico.org.br, acompanhados de uma foto em pose formal, breve currículo do autor com seus dados de contato. Os artigos devem conter de 3000 a 5000 caracteres com espaço e título com, no máximo, 60.


* Os textos para esta seção devem ser enviados para o e-mail imprensa@portalmedico.org.br, acompanhados de uma foto em pose formal, breve currículo do autor com seus dados de contato. Os artigos devem conter de 3000 a 5000 caracteres com espaço e título com, no máximo, 60.
Кракен даркнет namoro no brasil pinup mostbet apk winzada 777 tiger fortune Fortune Tiger Fortune Tiger Plinko Кракен зеркалокракен ссылка Os melhores cassinos online em melhoresportugalcasinos.com! Bonus exclusivos e avaliacoes e analises de especialistas sobre os novos e melhores cassinos online no Brasil e em Portugal!
Aviso de Privacidade
Nós usamos cookies para melhorar sua experiência de navegação no portal. Ao utilizar o Portal Médico, você concorda com a política de monitoramento de cookies. Para ter mais informações sobre como isso é feito, acesse Política de cookies. Se você concorda, clique em ACEITO.