Escrito por João Carlos Simões*
“Não se pode imaginar um futuro para a humanidade sem educadores, como não se pode pensar num futuro sem poetas e filósofos. Os educadores, numa visão emancipadora, não só transformam a informação em conhecimento e em consciência crítica, mas também formam pessoas.”
(Moacir Gadotti)
Estamos vivendo um momento delicado de perplexidades, incoerência política e de violência em vários aspectos da Medicina, da educação médica e da saúde no Brasil.
A maioria dos estudantes dos cursos de Medicina está alienada e desmotivada. Não tem aulas práticas, nem examinam os pacientes. O Internato não é mais treinamento em serviço! Os estudantes não gostam de extensão nos ambulatórios da periferia das cidades. Não se interessam por pesquisa. Nem a escola lhes proporciona pesquisa. Querem só o diploma no final do curso.
Os médicos residentes trabalham intensamente e a grande maioria não tem um programa de treinamento em serviço apropriado. Muitos não têm supervisão adequada e os preceptores são incompetentes. Os médicos residentes não reivindicam nada em relação aos seus programas inadequados e que não seguem as competências e diretrizes da Comissão Nacional de Residência Médica. Querem, apenas, o título de especialista no final da residência.
Os profissionais médicos estão abúlicos, amímicos e atímicos. Os médicos estão em processo de desagregação, são autofágicos e vibram as suas línguas como espadas uns contra os outros e, desrespeitosamente, até contra os seus mestres e entidades de classe. O governo, por outro lado, aumentou, inconsequentemente, em 2.500 vagas de alguns cursos de Medicina com a pretensão de que haja uma distribuição equânime dos médicos no território nacional. Servirá apenas para insuflar mais e mais os profissionais nos grandes centros urbanos. Não fixará o médico no seio da população e nas periferias das grandes cidades – que é um problema tão grave quanto a falta de médicos em mais de 500 municípios no País.
O modelo de saúde atual no País é um triângulo autofágico composto pelo paciente, as fontes pagadoras e os prestadores de serviço, que se distanciam progressivamente e que levará a um colapso futuramente. Vivemos um verdadeiro “apartheid” médico que é mostrado todos os dias pelos programas jornalísticos da televisão.
Qual a saída? A reflexão crítica não basta, como também não basta a prática sem a reflexão sobre ela. Seremos prisioneiros dos processos econômicos, das políticas delirantes do governo federal, da violência social e das palavras, ou reabilitaremos o pragmatismo da ética e do humanismo na Medicina contemporânea. Depende só de nós.
* João Carlos Simões é fundador e editor científico da Revista do Médico Residente do CRM Paraná; além de membro emérito da Sociedade Brasileira de Cancerologia.
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