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Escrito por Hélcio Luiz Miziara*

Quando me formei em 1958 a Patologia era uma especialidade pouco conhecida não só pelos próprios médicos, que achavam que a sua existência se restringia ao currículo escolar, e muito menos pela sociedade leiga, que simplesmente a desconhecia ou a ligava ao exame do cadáver.

O conhecimento da necessidade dos exames das partes do corpo humano retiradas e o próprio empenho do patologista em se firmar entre os seus pares fizeram com que os exames anatomopatológicos começassem a ser mais solicitados. No entanto vamos buscar na história a contribuição do patologista no progresso da medicina:

Ignaz Philipp Semmelweis (1818-1865), médico húngaro, foi o responsável por implementar a técnica de assepsia. Durante o período em que trabalhou numa maternidade em Viena, Semmelweis começou a se preocupar com o número de óbitos causados por um tipo de infecção que acometia mulheres logo após o parto- chamada infecção puerperal.

Foi então que seu amigo, o patologista Jakob Kollestchka morreu logo após ter ferido a mão durante a necropsia de uma das pacientes vítimas da tal infecção. Kollestchka foi submetido ao exame cadavérico e, na autópsia, verificou-se que as lesões encontradas eram semelhantes às das vítimas da febre puerperal. Desta forma, foi possível comprovar a existência da contaminação entre médicos que na época não possuíam noção de assepsia com as pacientes por eles examinadas na enfermaria.

Entretanto, na Europa já era do conhecimento da classe médica a existência de micróbios, graças aos estudos de Pasteur. Foi então que Semmelweis resolveu implantar em sua enfermaria os cuidados de assepsia. Tal medida resultou na redução do número de óbitos marcando o comportamento dos médicos daquela época.

Esse episódio mostra a importância do patologista e um dos seus grandes instrumentos de trabalho que é a realização das necropsias, trazendo grande contribuição para a humanidade. Em 1949, Jesse E. Edwards alertava os cirurgiões cardíacos para o perigo da hipertensão pulmonar em casos de comunicação interventricular e idealizou a estenose temporária daquela artéria até que a criança adquirisse maior peso e pudesse ser operada com maior segurança.

No contexto da história política do Brasil existem fatos em que os patologistas tiveram papel decisório auxiliando a desvendar mortes de figuras ilustres. Em 1954, foi uma necropsia a responsável por comprovar a inexistência de crime contra o então presidente Getúlio Vargas, ao atestar o suicídio.

O assassinato do Presidente americano Kennedy, cuja necropsia foi cercada de grande mistério e que deve ter trazido informações não chegadas ao público, quanto ao número e trajetória dos projéteis. Lembrando ainda a morte de Elvis Presley que comprovadamente foi por morte súbita cardíaca, e não por overdose.

Mais recentemente, o esclarecimento da morte do Ministro Portela, em 6 de janeiro de 1980, vítima de um infarto do miocárdio, bem como o exame anatomopatológico do tumor intestinal que levou o Presidente eleito Tancredo Neves a ser submetido a uma cirurgia de emergência no dia da sua posse.

Nestes episódios e em tantos outros que poderia citar, o patologista mostrou seu valor e sua contribuição na história da medicina, por seus conhecimentos, seja na realização de necropsias ou biópsias, desmistificando assim qualquer dúvida que possa haver na causa da morte ou na hora de fornecer o diagnóstico ao médico a fim de que este possa direcionar o tratamento mais adequado à doença do paciente.

* É sócio-emérito da Sociedade Brasileira de Patologia e membro emérito da Academia de Medicina de Brasília.

* As opiniões, comentários e abordagens incluidas nos artigos publicados nesta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do Conselho Federal de Medicina (CFM).


 * Os textos para esta seção devem ser enviados para o e-mail imprensa@portalmedico.org.br, acompanhados de uma foto em pose formal, breve currículo do autor com seus dados de contato. Os artigos devem conter de 3000 a 5000 caracteres com espaço e título com, no máximo, 60.


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