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Escrito por Rogério Wolf de Aguiar*
 
A saúde enfrenta uma de suas piores crises. Os meios de comunicação seguidamente escancaram problemas graves. Em linhas gerais são os mesmos de sempre, com um diferencial: os problemas estão acentuados, e nada indica que possa ocorrer uma estagnação, muito menos uma reversão de expectativa.
 
Continuam faltando leitos – e sempre mais –, as dificuldades para realização de exames só aumenta, assim como a cada ano as filas para procedimentos cirúrgicos, em regra, estão cada vez mais longas. Dramas que se arrastam sem perspectiva de solução em curto prazo.
 
A falta de leitos e, mais grave, o fechamento de hospitais repercute diretamente nos serviços de urgência e emergência. A superlotação, que há alguns anos ainda inspirava manchetes nos jornais, ficou tão corriqueira que hoje é praticamente nota de rodapé. As emergências estão sempre superlotadas, sobrecarregando médicos e dificultando um atendimento de melhor qualidade aos pacientes.
 
Os relatos dos nossos delegados seccionais durante encontro realizado em abril, no Cremers, contribuiu para confirmar que as mazelas da saúde nos municípios gaúcho, independente de região, são por demais preocupantes.
 
Nossos representantes no Interior traçaram um panorama assustador. Hospitais fechando, assistência reduzida, falta de médicos e de outros profissionais da saúde, más condições de trabalho. Enfim, um panorama sombrio e preciso de médicos que vivenciam diariamente essa dura realidade.
 
As Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), estruturas de complexidade intermediária entre as Unidades Básicas de Saúde e os serviços de urgência hospitalares, poderiam ajudar a melhorar o atendimento. As primeiras foram inauguradas no Estado em 2011, mas boa parte continua em construção e pelo menos 15 unidades estão concluídas, mas seguem, lamentavelmente, de portas fechadas.
 
Uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU), realizada em todo o país, constatou que 95% das obras em Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) encontram-se atrasadas.
 
A causa é aquela que permeia os diversos problemas que resultam nesse serviço público de saúde de um modo geral precário e cruel: o subfinanciamento, a falta de recursos. É claro que fazer saúde custa caro e não há dúvida de que falta dinheiro para movimentar essa engrenagem complexa, mas é preciso admitir que em algumas situações o problema é agravado por gestões pouco eficientes. Não podemos ignorar, ainda, que parte dos recursos, além de mal administrada, inclusive por quem tem a chave do cofre, o governo federal, se esvai nos descaminhos da corrupção.
 
No centro de tudo isso, no olho do furacão, está o médico. Foi dele que a presidente da República lembrou, em junto de 2013, na tentativa de acalmar a população que tomava as ruas, ao anunciar que o Brasil importaria milhares de médicos. Poucos dias depois, o governo oficializava o programa Mais Médicos – em gestação há mais tempo, na verdade –, como se os infortúnios da saúde no País se resumissem a carência de médicos. Hoje, dois anos depois, o que se vê é a saúde brasileira rumo à UTI.
 
O fato é que precisamos enfrentar essa realidade. Para isso, consideramos fundamental que todos estejamos unidos na busca de soluções para impedir que o sistema entre em colapso. Em relação aos médicos, temos de continuar defendendo um plano de carreira médica no SUS, além, é evidente, de lutar por um imediato reajuste na tabela do SUS. Estudo recente do CFM aponta que a remuneração média paga pelos planos de saúde chega a ser 1.284% maior do que os honorários recebidos por profissionais de hospitais conveniados ao SUS.
 
Por tudo isso é que propomos um pacto pela saúde, com cada entidade ou segmento mantendo suas prerrogativas, mas todos juntos trabalhando por um serviço de saúde mais digno e resolutivo.
 
 
* É presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do rio Grande do Sul (Cremers).

 

    

* As opiniões, comentários e abordagens incluidas nos artigos publicados nesta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do Conselho Federal de Medicina (CFM).

 

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