Mário Henrique Osanai*
São estarrecedoras as revelações trazidas por personagens de esquemas de corrupção que assaltam o País. Apesar de toda a divulgação dos fatos, o dinheiro público segue tomando caminhos indevidos de forma indecente — e impune. Mesmo com cifras elevadíssimas, pouco se visualiza do impacto real desses absurdos.
É preciso perceber o tamanho desse mal. São hospitais fechando, escolas ruindo e o socorro que não vem. São vidas perdidas por males que superam a barbárie da tortura. São dramas que não se limitam aos indicadores de desnutrição, mas aos longos períodos de sofrimento por fome, dor física e abandono. Não se medem por índices econômicos de desemprego e recessão, mas pela agonia interminável do medo, da insegurança e das oportunidades que não retornam.
A corrupção contaminou a sociedade de forma hedionda e cruel. Comprometeu, inclusive, as instâncias que deveriam fiscalizar, organizar, proteger e garantir dias melhores para todos, em especial os vulneráveis e mais necessitados.
São décadas de desmandos em que os reflexos dessa torpe conduta estão cada vez mais expostos. Mas seguem invisíveis. Estão presentes no cotidiano de todos, em atos e omissões de bandidos, alguns ilustres e respeitados como autoridades. Hipócritas que deturpam a cidadania e a democracia, desfrutam de prestígio e poder, mas destroçam uma sociedade inteira. O mais trágico é que seguem com a certeza da impunidade. Nessa linha, parece insano esperar por mudanças eficazes em curto prazo.
Será preciso depurar, com rigor e comprometimento, cada instituição, cada representação, cada centavo gasto (ou desperdiçado). Nesse processo, muitas listas de escândalos e decepções ainda deverão surgir, demandando coragem e isenção na investigação, mas com a expectativa da justa responsabilização dos envolvidos e a reversão dos recursos em prol de toda a sociedade.
Caso contrário, será como o final de um espetáculo pirotécnico, em que, apesar do êxtase das lindas e efêmeras imagens proporcionadas, quem reina absoluta é a escuridão da noite.
*Médico graduado pela UFRGS em 1989/ Cremers nº 17.419/ Cancerologista cirúrgico – RQE nº 20.134/ Médico fiscal sênior do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers).
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