Escrito por Luiz Fernando Panico.
As árvores já mostravam o seu esplendor pela aproximação da primavera. Meus filhos estavam agitados, pois eu iria levá-los para assistir ao desfile militar de sete de setembro. Como é gostoso ver o brilho nos olhos das crianças, quando a felicidade lhes estampa o rosto.
Meus pensamentos passaram a vagar, relembrando o momento em que lá estive, pela última vez. Naquela oportunidade, eu me sentia feliz vendo o povo reverenciar aqueles que perderam suas vidas por amor a seu país. Os mais velhos marchavam relembrando o serviço prestado à pátria-mãe, e os jovens, com o coração pulsando e a mente voltada para um país de esperança, desfilavam garbosos em seus uniformes.
Ao estacionar o meu carro próximo do local do desfile, me deparei com um velho professor de medicina. O Velho mestre, segurando uma linda criança que parecia ser seu neto, ainda mantinha uma postura altiva. Ao notar a minha presença, ele sorriu e me abraçou afetuosamente. Ao me despedir, após um diálogo prazeroso, lhe desejei anos de vida. Meu filho, que parecia atento à conversa, perguntou:
– Quem é este senhor? – Um herói de branco.
– Mas para ser herói, papai, ele não deveria marchar também?
– Nem sempre os heróis marcham, meu filho. Há vários tipos de heróis…
– Por que ele é um herói, papai? – Porque ele salva vidas, ajuda as crianças a crescerem com saúde e os velhos a sofrerem menos.
– Onde eles salvam vidas? – A grande maioria desses heróis se encontra em prontos-socorros de hospitais públicos, e as pessoas salvas por eles nem sequer sabem seu nome.
– É difícil ser um herói de branco?
– Sim. É necessário muito estudo, resignação e, sobretudo, amor ao próximo e ao que se faz.
– Existem muitos heróis de branco?
– Sim. São muitos, em todo o país. Mas todos, ou quase todos, são pouco conhecidos.
– Por que são pouco conhecidos, se eles são heróis? – Porque não interessa a certas pessoas.
– Quem são essas pessoas?
– Os falsos-heróis ou anti-heróis.
– O que são falsos-heróis ou anti-heróis?
– perguntou ele, aparentemente espantado.
– São pessoas que detêm o poder nas mãos, que podem fazer muito pelas outras pessoas, pobres, crianças, desamparados da sorte, doentes, desempregados, dando às novas gerações lições de honestidade, de grandeza de espírito, combatendo a corrupção e diminuindo as desigualdades sociais, mas que nada disso fazem para ajudar o país a sofrer menos e crescer com maior igualdade social. Os anti-heróis só pensam nos seus interesses pessoais. São, acima de tudo, pessoas egoístas e perversas. Todos eles passam por heróis, muitos ficam na história, sem nunca terem sido de fato heróis.
– No Brasil há falsos heróis?
– Sim, há muitos, e por isso o nosso povo sofre demais.
Quando o desfile estava por terminar, senti no rosto dos meus filhos uma expressão de felicidade. Não sabia se fora a conversa ou propriamente o desfile a que tínhamos assistido. Ao chegarmos em casa, a minha mulher impaciente abraçou as crianças e perguntou para eles: –
O quê de mais bonito vocês viram no desfile?
Meu filho respondeu na frente:
– O herói de branco.
*Luiz Fernando Panico é ginecologista e obstetra.
* As opiniões, comentários e abordagens incluidas nos artigos publicados nesta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do Conselho Federal de Medicina (CFM). * Os textos para esta seção devem ser enviados para o e-mail imprensa@portalmedico.org.br, acompanhados de uma foto em pose formal, breve currículo do autor com seus dados de contato. Os artigos devem conter de 3000 a 5000 caracteres com espaço e título com, no máximo, 60. |