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Escrito por João Gonçalves de Medeiros Filho*

Muito oportuna a entrevista de David Fergusson recentemente publicada nas páginas amarelas da Veja, intitulada Maconha é droga, sim.

Lamentavelmente,em pleno século 21, ainda permeia na mente de pessoas ditas “esclarecidas “ a idéia de que a cannabis é inócua e, por incrível que pareça, tem ganho adeptos de sua legalização, inclusive entre grupos conservadores. Não raro informações banalizam seus efeitos, em detrimento do conhecimento científico que confere o real significado do problema.

A maconha usada no passado, nos movimentos hippies tipo Woodstock, continha baixíssimas concentrações do princípio ativo( cerca de 1%) – o THC (tetraidrocanabinol) – e seu uso encerrava significado de protesto, de transgressão do proibido. Hoje a droga, graças a “melhoramentos genéticos”, chega a conter concentrações de THC superiores a 50%, a exemplo da Skank largamente consumida em algumas capitais brasileiras.

Além de se constituir na porta de entrada para outras drogas, por curiosidade ou desejo de tentar “novas experiências”, quiçá mais prazerosas, e pelo fato de terem acesso fácil a drogas pesadas ao abordar o traficante, a maconha é altamente deletéria, sendo classificada como droga psicoativa capaz de alterar a mente e o comportamento.

Como nos ensina Tiba, “o casamento com a maconha é sempre destrutivo”. Apesar de a dependência grave ocorrer numa parcela relativamente restrita de usuários,já que está condicionada a predisposição genética, a droga está longe de ser inofensiva. O THC , aos poucos vai minando a capacidade intelectual do indivíduo: a atenção, a concentração e a memória; provoca uma apatia, um entorpecimento que não condizem com a adolescência. Ronaldo Laranjeira, entre outros efeitos danosos relaciona:diminuição da coordenação motora, alteração da memória e da concentração,modificação da capacidade visual e do pensamento abstrato,depressão e ansiedade, mudanças rápidas de humor, irritabilidade, ataques de pânico, modificações da personalidade e tentativas de suicídio.

O pior é que os pais, a exemplo de cônjuges traídos,frequentemente são os últimos a saberem. E vem então o sentimento de culpa – meu Deus, onde foi que eu errei? Na verdade, no afã de proporcionar o melhor, eles se tornam demasiadamente permissivos, relevam os erros do filho, não impõem limites, – até porque não raro são ausentes, passam a maior parte do tempo fora do lar ,são workaholics (viciados em trabalho) e , ao voltarem para casa procuram agradar a todo custo: cometem os chamados erros de amor. Já se foi o tempo em que as mães eram do lar e por força das circunstâncias, as crianças hoje já começam a frequentar a escola aos 2 anos de idade. Evoluímos do autoritarismo para o liberalismo total. E o acesso a droga é facílimo , graças aos mini,micro ou traficantes maiores que se encarregam de sua distribuição.

E o que fazer? Os pais precisam conhecer e estar atentos aos primeiros sinais de drogadição: desde as mudanças de comportamento do filho, queda do rendimento escolar, até sinais físicos como olhos vermelhos , boca seca , hálito característico, expiração forçada, olhos sem vida,rosto sem expressão, pálpebras semicerradas, fala pastosa,etc. E fiquem de olho nas companhias!

A detecção precoce é fundamental, uma vez que aumenta as chances de recuperação, minimizando os danos à saúde física e emocional.

Assim, a partir da suspeita do problema, o primeiro passo na sua abordagem é reconhecer a impotência perante as drogas e buscar ajuda dos mais experientes: médicos e psicólogos familiarizados com o assunto,clínicas especializadas e grupos de auto-ajuda. Entre estes , destacam-se os AA ( Alcoólicos Anônimos), os NA ( Narcóticos Anônimos) e Amor Exigente, amplamente difundidos no mundo inteiro, inclusive em nosso meio. Nos AA , busca-se o crescimento interior, seguindo-se os Doze Passos, a partir do reconhecimento da vulnerabilidade ao álcool e da fé num Poder Superior capaz de intermediar a superação do mal.

* É pediatra, professor universitário e 1º secretário do Conselho Regional de Medicina do Estado da Paraíba (CRM-PB).

* As opiniões, comentários e abordagens incluidas nos artigos publicados nesta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do Conselho Federal de Medicina (CFM).


 * Os textos para esta seção devem ser enviados para o e-mail imprensa@portalmedico.org.br, acompanhados de uma foto em pose formal, breve currículo do autor com seus dados de contato. Os artigos devem conter de 3000 a 5000 caracteres com espaço e título com, no máximo, 60.


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