Escrito por Cláudio Balduíno Souto Franzen*

Ainda é cedo para avaliar devidamente o que vai representar para a atividade médica, a saúde e a sociedade a perda de Marco Antônio Becker.

Com seu jeito arrojado e vibrante, Becker foi um grande líder. Um comandante que nunca se furtou de ir para a linha de frente. Ao contrário, Becker se expunha até demais, comprando brigas quase sem medir conseqüências em defesa das causas em que acreditava na condição de dirigente de classe. Becker brigava mais pela medicina e pela saúde pública do que por si próprio.

Conheci Marco Antônio Becker em meados dos anos 80, na Sociedade Gaúcha de Oftalmologia, da qual foi presidente-fundador. Depois, quando ele, Flávio de Agosto e eu recebemos a Comenda do Mérito Médico. Desde então fui seu companheiro em muitas batalhas e sou testemunha de sua coragem e desprendimento para enfrentar tudo que pudesse de alguma forma afetar a prática médica, tanto a má remuneração como as más condições de trabalho.

Becker enxergava adiante. Foi o primeiro a alertar para o risco da abertura indiscriminada de faculdades de medicina. Isso em 1990, quando o Brasil tinha 81 cursos (hoje, 18 anos depois, tem 176). Becker sempre defendeu que havia excesso de médicos e que era indispensável zelar pela qualidade na formação de novos profissionais. Fundamentado nessas convicções, liderou forte campanha, ainda não igualada, que acabou impedindo a abertura de cursos de medicina em Cruz Alta e Ijuí.

A partir daí, Becker avançou em outras frentes de combate. Mais do que lutar pela medicina e por um atendimento digno e igualitário de saúde à população, Becker lutava por um mundo melhor.

Com o entusiasmo e a coragem de sempre, Becker combateu o registro no País de médicos formados no exterior sem a devida revalidação do diploma, conforme determina a legislação, obtendo, em tal sentido, vitórias na Justiça Federal. Da mesma forma, foi implacável com o exercício ilegal da medicina e com a intromissão de outros profissionais da saúde na atividade exclusivamente médica.

Na defesa da qualidade do trabalho médico e do atendimento digno à população, Becker liderou, de forma inédita no país, a interdição ética de hospitais, clínicas e postos de saúde que funcionavam de forma precária.

Becker tinha uma visão ampla e de vanguarda. No CFM, foi relator do Parecer 24/03, que serviu de base para a Resolução 1.752/2004, sobre a autorização ética do uso de órgãos e/ou tecidos de anencéfalos para transplante, mediante autorização prévia dos pais.

Como em tantas outras situações, estive ao lado dele no Movimento Mais Saúde para o SUS, realizado neste ano e que reuniu mais de oito mil pessoas em manifestação no centro de Porto Alegre. Os olhos de Becker brilhavam de alegria e de emoção diante daquela multidão mobilizada e ativa. Naquele momento, tenho certeza de que ele teve reforçada a sua crença – quase uma obsessão – de que o trabalho médico e a saúde um dia terão a atenção que merecem dos gestores públicos.

Pena que Marco Antônio Becker não estará ao nosso lado para nos ajudar a atingir esse objetivo. Mas nós, seus companheiros de estrada e de lutas, seguiremos mantendo acesos seus ideais, seu maior legado, buscando sempre o melhor para a medicina e a sociedade.

Essa será a maior homenagem que poderemos prestar a esse homem que deixou sua marca na história da medicina gaúcha e brasileira. Um líder que certamente fará muita falta nesses tempos de tentativas de cercear a liberdade e a autonomia dos médicos; de ações demagógicas para abrir novas faculdades de medicina; e de manipulações políticas para dispensar de exame de reavaliação os médicos formados fora do país, contrariando a legislação vigente, entre outras iniciativas que nada acrescentam à Saúde.

Particularmente, fica a eterna gratidão ao Becker, responsável pela maior homenagem que já recebi: dar meu nome ao auditório principal do Cremers.

* É presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers).

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