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Escrito por Emílio César Zilli*

O Brasil possui, segundo o IBGE, 191milhões de habitantes. Deste total, 95 milhões são do sexo masculino e 38 milhões possuem entre 25 e 59 anos de idade . É uma população ainda jovem e quase igual à de toda Argentina. Nossa expectativa de vida está, hoje, em torno dos 70 anos.

Entretanto, esta população representa quase 27% de toda mortalidade masculina. A mortalidade global da população masculina no Brasil é hoje em torno de 52,5% do total de todos os óbitos. E deste total, quase a metade morre de doença cardiovascular. E, pasme, 40% na faixa etária entre 20 e 60 anos.

É um enorme desperdício de vidas. Principalmente se levarmos em conta que, nesta idade, o ser humano está no pleno desenvolvimento de sua experiência e capacidade. E por quê?

Em primeiro lugar porque não são controlados os principais fatores que levam a esta enorme e absurda mortalidade. Hipertensão arterial, tabagismo, sedentarismo, diabetes, colesterol elevado e obesidade são causas conhecidas e plenamente controláveis. Se controlássemos apenas o tabagismo e o sedentarismo, já poderíamos diminuir estas taxas em 12% ao ano, ou seja, salvaríamos quase 300.000 vidas.

Em segundo lugar, o fato é que o homem, nesta idade, não procura médico: “Eu não preciso“, se costuma dizer equivocadamente. Se conseguíssemos levar estes indivíduos (nossos pais, companheiros, tios e irmãos) para uma simples avaliação médica anual, estas cifras diminuiriam em 500%. Impressionante.

Esta foi a proposição dos órgãos de saúde americanos: um “check-up” anual diminui em 500% a possibilidade de um problema cardíaco. E olhem que estamos falando com conhecimento de causa. Só em 2007, 60% das principais causas de internações pelo Sistema Único de Saúde, SUS, foram relacionadas a problemas coronarianos (40%) e à hipertensão arterial (20%) – doenças cujos fatores de risco e a morbidade já são amplamente conhecidos.

A Organização Mundial de Saúde nos vaticina prognósticos terríveis. Em 2040 (logo ali, à nossa frente) seremos os campeões na incidência de doença cardiovascular. Ficaremos à frente de todos os países, inclusive dos chamados “BRICs” (Brasil, Índia, Rússia e China).Provavelmente, teremos que descobrir uma jazida “pré-sal” por ano, para poder pagar esta fatura.

Perder todo ano esta enorme quantidade de vidas… Me desculpem, mas isto não tem preço. Desperdiçar esta imensa quantidade de recursos para tratamento – quase R$ 400 milhões com doença coronariana, quase R$ 200 milhões com acidente vascular cerebral (derrames) – somente em 2006? Será que não há alguma coisa errada em nosso sistema de saúde?

Em bom momento, o Ministério da Saúde resolve desenvolver a Política Nacional para a Saúde do Homem, pois, até agora, não existia nada semelhante. É incrível, mas é verdade.

Pela primeira vez em nosso país, uma política será desenvolvida especificamente voltada para esta realidade, para os homens desta faixa etária. .A Sociedade Brasileira de Cardiologia desde há muito alertava para este ponto. Sempre se achou que o homem morria pela próstata; e é verdade, mas depois de 60 anos. Da mesma maneira que a mulher pelo útero. Mas morremos mesmo, e muito, pelas doenças do coração .

Mais que nunca, é chegada a hora de dar um basta nesta situação. Chega de morrer inutilmente. Chega de morrer por nada. Nós, cardiologistas da Sociedade Brasileira de Cardiologia, estamos prontos para este desafio Convocamos o governo e a população brasileira para esta cruzada. Que cada um faça a sua parte.

Vamos discutir de novo daqui a dois anos; vou mostrar as estatísticas. Mas todos nós estaremos comemorando. Convença seu pai, seu filho, seu companheiro e/ou seu irmão a procurar um cardiologista. Mesmo que ele pense que não precisa. E isto tudo, estejam certos, irá mudar.

* É diretor de qualidade assistencial da Sociedade Brasileira de Cardiologia.

* As opiniões, comentários e abordagens incluidas nos artigos publicados nesta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do Conselho Federal de Medicina (CFM).


 * Os textos para esta seção devem ser enviados para o e-mail imprensa@portalmedico.org.br, acompanhados de uma foto em pose formal, breve currículo do autor com seus dados de contato. Os artigos devem conter de 3000 a 5000 caracteres com espaço e título com, no máximo, 60.


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