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Conselho Federal de Medicina

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Léa Rosana Viana de Araújo e Araújo

 
Apesar dos achaques promovidos pelo Governo, que resolveu atirar convenientemente sobre os médicos a responsabilidade indevida pelos problemas que afetam a saúde pública no País, o médico ainda é o profissional em quem a população brasileira mais confia. Essa é a conclusão de pesquisa do Instituto Datafolha, realizada a pedido do Conselho Federal de Medicina (CFM) em setembro.

De acordo com os dados, para 26% dos brasileiros o médico permanece no topo do ranking da credibilidade. Em segundo e terceiro lugares vêm o professor (24% das menções) e o bombeiro (15%). No extremo oposto, na base da escala, aparecem os políticos (0,3%).

Os resultados não surpreendem, considerando-se o histórico engajamento da categoria médica em defesa da sociedade e dos pacientes. Assim, o inquérito representa o reconhecimento da dedicação, do empenho e do desprendimento dos profissionais na dura rotina.

O questionário foi aplicado em 2.089 pessoas de todas as regiões do País, em áreas metropolitanas e no interior. Do ponto de vista geográfico, o médico conta com mais credibilidade e confiança nas populações do Nordeste e do Sudeste, que apresentam índices de 31% e de 27%, respectivamente.

Quando o dado é analisado em função de faixa etária, o desempenho é positivo nos que têm mais de 60 anos (31%). Os médicos ainda ganham entre as mulheres (27%) e entre os portadores de ensino fundamental (31%).

De forma complementar, a pesquisa revela também que o brasileiro sabe que poderia ter uma assistência médica de qualidade superior se o Estado fizesse sua lição de casa. Ao mesmo tempo em que confia nos médicos, a população reconhece que esses profissionais têm sua atuação prejudicada devido à falta de condições estruturais.

Para 94% dos entrevistados na pesquisa CFM/Datafolha, a qualidade do trabalho do médico é afetada por problemas como as precárias condições de trabalho (41%), pelos baixos salários (33%), pela corrupção na área de saúde (33%) e pela má gestão da saúde pública (28%).

Também foram apontados como fatores que impedem o pleno exercício da medicina: a falta de acesso a exames e tratamentos de alta e média complexidades (25%); a falta de fiscalização de clínicas e de hospitais (24%); e a ausência de leitos para internação no SUS, entre outros itens.

As condições de trabalho foram apontadas como os grandes obstáculos ao bom exercício da medicina, principalmente pelas moradoras do sexo feminino com nível superior e entre 25 e 34 anos de regiões metropolitanas do Norte e Centro-Oeste.

Já os baixos salários foram indicados como principais problemas para os moradores do sexo masculino com mais de 60 anos e nível fundamental da área metropolitana do Sudeste. Por outro lado, a corrupção na área da saúde foi citada em especial por habitantes com idade entre 16 e 44 anos e nível superior do Norte e Centro-Oeste.

Esses dados dialogam com outro estudo do Datafolha, de agosto, que mostra que a saúde é o principal problema do País na visão de 37% dos brasileiros, a frente da corrupção (18%) e do desemprego (15%). O trabalho aponta, ainda, que a percepção da qualidade dos serviços de saúde (públicos e privados) é ruim ou péssima para 65% das pessoas com 16 anos ou mais.

Os números falam por si. Cabe aos gestores estar atentos à visão dos cidadãos sobre esses temas. Para o eleitor, medidas como o combate à corrupção (65%), o aumento no número de profissionais de saúde (58%), a maior disponibilidade de leitos (50%) e o aumento das verbas para a saúde (47%) são urgentes para melhorar a assistência.

Essa pauta de reinvindicações encontra acolhida com os médicos brasileiros e às suas entidades de representação, como o CFM, que continuarão a cobrar essas e outras mudanças.

É justamente por esse duplo compromisso – com o individual, manifesto na angústia dos pacientes, e com o coletivo, materializado na inconformidade de comunidades inteiras com o que lhes oferecido – que os médicos continuam e continuarão a ter o respeito e receber o carinho da população.

Afinal, a população sabe que esses homens e mulheres são os trabalhadores vocacionados que entenderam o seu papel no duro exercício de resgate da cidadania e da dignidade, possível na oferta de um atendimento médico digno e adequado.

 

* É conselheira federal suplente – Pará


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