Escrito por Carlos Vital Tavares Corrêa Lima*
Os resultados de algumas pesquisas de opinião pública nos dizem que se desejamos um ano novo precisamos fazê-lo novo, sabendo que para isso contaremos apenas com nós mesmos. Refiro-me às pesquisas sobre o melancólico final do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, que já contou com aprovação na casa de 65%, mas, apesar de reeleita, não conseguiu se afastar dos escândalos recentes vinculados ao seu Governo.
O descontentamento aparece nos números. Apenas 42% dos brasileiros com 16 anos ou mais consideram sua gestão boa ou ótima. Por outro lado, o índice de reprovação chega a 24% e a taxa dos que dão nota regular é de 33%.
Os dados do Datafolha, divulgados no fim de dezembro, mostram um cenário sombrio para 2015. Em 2010, quando Dilma Rousseff assumiu o Palácio do Planalto pela primeira vez, 73% acreditavam que seu governo seria ótimo ou bom, 16% esperavam uma atuação regular e 6% ruim ou péssima.
Em relação ao segundo mandato, 50% avaliam que será ótimo ou bom, ou seja, 23 pontos percentuais a menos de credibilidade. Além disso, a aposta num desempenho ruim ou péssimo saltou para 26%, mais de quatro vezes superior ao índice de 2010.
É certo que parte considerável da má avaliação e do pessimismo relacionados à gestão de Dilma Rousseff tem lastro na crise enfrentada pela assistência à saúde no País. Para 43% dos entrevistados, a precariedade na assistência à saúde é o maior dos problemas. Em seguida, vêm segurança/violência (18%), educação (9%), corrupção (também com 9%), desemprego (4%), economia (3%), inflação (2%), entre outras.
Interessante notar que as áreas citadas como de pior desempenho do governo coincidem com a percepção da população sobre os problemas que afetam o País. Na lista, a saúde continua no topo, com avaliação negativa de 40%.
A pesquisa do Datafolha dá sinais claros de que o governo federal se distancia da sociedade e, que para reduzir o desgaste das más avaliações, tem que envidar grandes esforços para evitar fisiologismos determinantes de ações ineficazes.
Precisa demonstrar vontade no combate à corrupção, extinguindo a cultura da impunidade, reequilibrando as contas públicas desajustadas pelas políticas que abrigam os amigos do rei e da rainha.
As notas ruins da área da saúde são semelhantes às que lhe eram atribuídas antes do Programa Mais Médicos, apontado pelo governo como a solução definitiva para a falta de acesso à assistência. As opiniões dos entrevistados evidenciam a rejeição da política do pão e circo para o povo de Roma como marketing eleitoreiro.
Como o Conselho Federal de Medicina (CFM) tem defendido, incansavelmente, o cidadão quer, sim, respostas pragmáticas que mudem estruturalmente o Sistema Único de Saúde (SUS). São indispensáveis ações concretas e resolutivas.
É hora de garantir mais financiamento, boa gestão do que já é disponível, de oferecer infraestrutura de atendimento em postos e hospitais e, implementar uma política de recursos humanos valorizando os profissionais que atuam na ponta, especialmente com a criação de uma carreira essencial ao Estado para os médicos do SUS.O CFM, sem partidarismo político-eleitoral e sem perda de esperança, intensificará a defesa de princípios e o aperfeiçoamento de práticas, além das suas críticas construtivas e protestos por um Brasil democrático e meritocrático a ser conquistado com a erradicação da pior das ditaduras, da mais cruel das violências, praticada com a manutenção da ignorância, ou seja, do analfabetismo funcional que escraviza a mais pobre e maior parte do povo brasileiro, um povo humilde e heroico.
Na resiliência e persistência desse povo e na evidente superação do mal pelo bem, constatada ao longo da história da humanidade, estão fixadas as raízes da esperança em um novo ano, capaz de inspirar paz e novas canções de liberdade, que falem “das flores” em forte refrão.
*É presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM).
Artigo publicado na edição nº 240 do Jornal Medicina.
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