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Em tempos da maior epidemia de uma das doenças mais fatais do mundo, casos suspeitos de contaminação pelo vírus ebola têm chegado aos Centros de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde. Entretanto, todos os relatos feitos até o momento foram alarmes falsos, uma parte se confirma como malária, ou outras doenças virais como gripe e até mesmo infecções bacterianas que causam diarreia e vômitos.

Os equívocos se dão porque várias doenças infecciosas tem sintomas comuns (febre, mal estar geral, dor abdominal, diarreia, vômitos e dor de cabeça).Para esclarecer informações sobre a malária, prevalente nos países de clima tropical e subtropical, a coluna Opinião do Portal Médico divulga o artigo Malária – Cinco informações importantes para viajantes.

Escrito pelo sanitarista Wanir José Barroso, especialista em epidemiologia e controle de endemias/Fiocruz, o texto traz informações importantes sobre medidas preventivas de malária para viajantes.

Confira abaixo:

 

Malária – Cinco informações importantes para viajantes

Escrito por Wanir José Barroso*

 

1. EVITAR A PICADA DE MOSQUITOS COM O USO DE REPELENTES

Os repelentes são substâncias químicas que repelem insetos quando aplicados sobre a pele. Os repelentes à base de DEET (N-N Dietiltoluamida) são efetivos por cerca de apenas 4-5 horas. Existem no mercado produtos com apresentações (creme e aerossol) e concentrações de DEET diversas. Devem ser usados nas partes descobertas do corpo, inclusive nas orelhas. Testar pequena quantidade sobre a pele antes de usar torna-se importante para avaliar processos alérgicos ao DEET.

A proteção dos olhos, nariz e boca deve ser observada. Nunca acreditar que repelentes protegem ou repelem insetos por longos períodos, o nível de proteção é limitado à concentração do princípio ativo e às condições de uso de cada produto. A icaridina é outro princípio ativo que também repele insetos. Seu nível de proteção também deve ser avaliado. Use aquele que lhe dê conforto. A transpiração e o suor atraem mosquitos, você já deve ter tido esta experiência. Habitantes de áreas endêmicas normalmente não usam repelentes e desestimulam você a usar, na maioria das vezes porque banalizam a doença, principalmente aqueles que já contraíram múltiplas malárias.

O desconforto de usar um produto sobre a pele com cheiro forte também desestimula o uso. Ambientes telados ou com ar condicionado também reduzem a possibilidade de picadas de mosquitos. Excetuando-se roupas de astronauta, nenhuma das tecnologias acima oferecem proteção de 100% contra picadas de mosquito. No link em seguida está a distribuição dos principais mosquitos transmissores de malária no planeta (http://www.map.ox.ac.uk/browse-resources/multiple-vectors/dominant_malaria_vectors/world/)

Os mosquitos transmissores de malária estão distribuídos por praticamente todo planeta. O Anopheles darlingi é o principal transmissor de malária no Brasil, vejam no mapa. São cerca de 54 espécies de mosquitos com capacidade de se infectar com o Plasmodium e transmitir malária, todas pertencentes ao gênero Anopheles.

Uma característica visual desses mosquitos é que eles pousam sobre a pele formando um angulo de aproximadamente 45 graus (http://malariabrasil.blogspot.com.br/2011/06/video-ciclo-evolutivo-da-doenca.html). Em países como os Estados Unidos, também temos mosquitos transmissores de malária, mas não temos a doença de forma endêmica.

As antigas áreas endêmicas de malária dos EUA são hoje regiões de transmissão interrompida pelo tratamento de casos e não pela eliminação do vetor. Lá também existe o risco de reintrodução da doença por existir mosquitos transmissores em algumas regiões e circulação de doentes vindos de áreas endêmicas.

 

2. PROCURAR SABER SE VOCE ESTÁ EM ÁREA DE TRANSMISSÃO DE MALÁRIA.

Procure saber se existem casos de malária onde você está. Se existem, você está em uma área de transmissão. Se há casos é porque existem mosquitos transmissores em circulação infectados com os protozoários transmitindo malária.

Acreditar que em algumas regiões do planeta há transmissão de malária inclusive em áreas urbanas. Na Ásia, África e nas Américas Central e do Sul, isto é realidade. Você não vai ouvir nem ver propaganda de malária em lugar nenhum. Nos países africanos, por exemplo, você vai entrar e sair de áreas de transmissão de malária sem estar sabendo. País nenhum faz propaganda de suas doenças.

Qualquer informação sobre malária em meios de comunicação normalmente assusta quem nunca teve ou desconhece a doença. Acredite também que a malária está sem controle no planeta. Os portos e aeroportos também são locais onde pode ocorrer transmissão de malária, principalmente os que recebem embarcações e aeronaves provenientes de países endêmicos.
Mosquitos infectados também se utilizam de vários meios de transporte. Você já deve ter flagrado mosquitos lhe picando no seu carro ou ônibus. Eles só não andam de moto ou bicicleta, porque o vento não deixa.

 

3. PENSAR EM MALÁRIA SE TIVER FEBRE

Se você for viajar para algum dos 100 países do link (http://www.map.ox.ac.uk/explore/countries/) ou alguma área de transmissão de malária no Brasil como AM, PA, TO, AC, RO, RR, AP, oeste do Maranhão e norte de Mato Grosso, além de regiões de Mata Atlântica na região sudeste nos Estados de SC, PR, SP, RJ, ES (A malária brasileira fora da Amazônia) e regiões do vale do Rio Paraná, e vier a apresentar FEBRE como principal sintoma até 30 dias da volta, PENSE EM MALÁRIA como possibilidade de diagnóstico!

Os outros sintomas da malária são diarreia, vômitos, dor de cabeça, dor abdominal, falta de apetite, mal estar geral, entre outros. A maioria dos profissionais de saúde, incluindo os médicos, fora das áreas de transmissão de malária em todos os países RARAMENTE PENSA EM MALÁRIA DIANTE DE UM PACIENTE FEBRIL, a não ser que você informe que viajou e esteve em área endêmica ou de transmissão de malária.

 

4. SABER ONDE BUSCAR POR SOCORRO MÉDICO

Fora das áreas endêmicas de malária os recursos assistenciais e laboratoriais para diagnosticar e tratar malária são poucos e concentrados em algumas regiões. Procure saber na sua cidade ou onde você está qual hospital, médico ou laboratório estão habilitados e capacitados a fazer diagnóstico e tratamento de malária.

Se você está numa área de transmissão da doença num país diferente do seu e vier a apresentar qualquer dos sintomas citados acima procure por socorro médico antes de embarcar de volta. Os Órgãos de Saúde de qualquer lugar saberão lhe informar os telefones e endereços de onde buscar por socorro médico especializado para diagnosticar e tratar malária.

Lembrem sempre que malária é uma doença de evolução rápida e que pode evoluir para suas formas graves e levar ao óbito em poucos dias se não for diagnosticada e tratada, principalmente a malária causada pelo P. falciparum. A morte por malária se dá por falência de vários órgãos. As principais causas de óbitos por malária em qualquer lugar são o retardo de diagnóstico e de tratamento e a desinformação sobre a doença.

 

5. NÃO SE AUTOMEDICAR

Se você está ou esteve em áreas de transmissão de malária e apresentou sintomas sugestivos de malária não se automedique. Acredite em primeiro lugar que os seus sintomas podem ser malária. Procure por socorro médico para fazer o diagnóstico e tratamento, informando ao médico que esteve em área ou país endêmico de malária.

Os sintomas iniciais da malária são muito parecidos com o de outras doenças, inclusive as doenças virais. O período de incubação da malária varia de 8 a 30 dias ou mais. Período de incubação é o período que vai da picada do mosquito até o início dos sintomas, e corresponde à fase hepática da doença. Na malária, se o homem for picado por mosquitos infectados duas vezes num mesmo dia ele desenvolve duas malárias ao mesmo tempo com níveis altos de parasitemia e sintomas muito mais exuberantes.

Níveis altos de parasitemia (quantidade de protozoários no sangue) aceleram as formas graves da doença e o óbito. Automedicaçao com medicamentos antitérmicos reduzem a febre, mas não curam malária. Somente os medicamentos antimaláricos curam a malária quando prescritos de forma correta.

Não se automedique de forma alguma com medicamentos antimaláricos para “evitar” a malária em áreas de transmissão. Nenhum deles impede a infecção malárica. Se for picado por um mosquito infectado com o Plasmodium vai desenvolver a doença pelo menos até a fase hepática. Sem falar da toxicidade desses medicamentos, dos efeitos colaterais e restrições de uso.

As doses utilizadas nesses casos são subterapêuticas, insuficientes para curar ou “evitar” a doença. E dose subterapêutica é fator de quimiorresistência. Não são poucos os protozoários resistentes aos antimaláricos. A cloroquina e a mefloquina, por exemplo, são antimaláricos que perderam sua eficácia frente aos Plasmódios em vários países.

Outra coisa: se o Plasmodium for resistente ao medicamento utilizado, você desenvolverá a doença com todo rigor dos sintomas que o protozoário impõe. E o pior de tudo, o uso desses medicamentos utilizados dessa forma causam uma falsa sensação de segurança em quem os utiliza, e por conta disso acabam por se expor mais aos mosquitos transmissores da doença.

Quem faz o diagnóstico e o tratamento na fase inicial da doença tem sempre um melhor prognóstico, com chances reais de cura em Centros de Diagnóstico e Tratamento. A quimioprofilaxia em malária prescritas por médicos habilitados encontram as mesmas barreiras técnicas. (http://malariabrasil.blogspot.com.br/2010/04/malaria-quimioprofilaxia-e-medidas-de.html)

Nem em situações extremas se justifica o uso de antimaláricos para uma malária que ainda não se contraiu. Uma frase para botar no quadro: “Medicamento não é vacina, por isso não evita a malária!” Infelizmente ainda não temos vacina contra a malária!

 

* É sanitarista, especialista em epidemiologia e controle de endemias-Fiocruz/RJ-Brasil.  Autorizada a reprodução deste texto desde que citada a fonte e o autor. No link abaixo o folder “Conheça a Malária” com os tels dos principais Centros de Referência para diagnóstico e tratamento de Malária no Brasil.

 

     

* As opiniões, comentários e abordagens incluidas nos artigos publicados nesta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do Conselho Federal de Medicina (CFM).

 

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