Escrito por José Eduardo de Siqueira*
O VI Congresso Brasileiro de Bioética, I Congresso de Bioética do Mercosul e Fórum da REDBIOÉTICA da UNESCO retoma a temática do meio ambiente não como exercício nostálgico de reflexão sobre as propostas originais de Potter, mas sim por considerar a preservação ambiental como condição “sine qua non” para sobrevivência da vida humana no planeta.
Parece inquestionável que o destino do ser humano está indelevelmente ligado à integridade da biosfera, o que nos obriga reconhecer a dignidade da própria natureza e preservá-la muito além de um senso puramente utilitarista.
Percebe-se claramente que os avanços extraordinários da biotecnociência nos mostram que a tese baconiana de que a natureza deve servir a todos os propósitos de transformações impostas pelo homem geraram dramáticos desequilíbrios ambientais.
Os saques cada vez mais brutais das reservas do planeta nos fazem reconhecer claras advertências da natureza negando-se a dar mais de si mesma. Na década de 1990, Gro Brundtland, então coordenadora geral da Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento da OMS, declarou que as questões ambientais deixariam de ser temas secundários nas tomadas de decisões políticas, tornar-se-iam prioritárias, constituindo-se então no único caminho de salvaguardar o planeta viável.
Vista do espaço sideral, a terra apresenta-se como uma pequena e frágil espaçonave azul , decorada não por obras humanas, mas sim por enormes extensões de oceanos, imponentes calotas de gelo e a tranqüilidade de verdes matas.
A incapacidade de adequar tecnologia não agressiva à vida sensível desse organismo está modificando uma realidade de milhões de anos, gerando destruição e morte.
Já é consensual reconhecer que condições adversas de sobrevivência humana estão relacionadas com a ocupação desordenada e predatória de nossas matas. Estima-se que, anualmente, mais de seis milhões de hectares de terras produtivas convertam-se em deserto, o que significa perder a cada 30 anos, uma área equivalente ao território da Arábia Saudita.
Criou-se uma pressão sem precedentes sobre matas, mananciais de água doce e bosques. Há um estreito vínculo entre degradação ambiental e aumento da pobreza, o que está expresso no fato de termos iniciado o século XXI com expressivo contingente de pessoas passando fome em número jamais conhecido na história da humanidade.
Ser humano e natureza são interdependentes, a sobrevivência de um significa preservação da vida do outro. A emissão descontrolada de poluentes na atmosfera promove a destruição da camada de ozônio permitindo maior penetração de raios ultravioleta faz aumentar a incidência de câncer de pele.
O desmatamento faz reduzir os mananciais de água doce que promove desertificação de extensas áreas de terra tornando-as inférteis e não mais permitindo que produzam alimentos suficientes, o que torna inexorável a fome como fenômeno endêmico. Morre a natureza, morre o ser humano, sobretudo os mais vulneráveis .
A destruição da natureza, assim como da própria vida humana, impõe-nos o dever de acolher propostas éticas de preservação ambiental, prudência e não de progresso a qualquer custo, mesmo porque se trata, em última instância, de custódia da própria vida.
Bioética, Meio Ambiente e Vida Humana é o tema central do congresso que ocorrerá entre 30 de agosto e 03 de setembro de 2005, na cidade de Foz do Iguaçu – Paraná. Localidade que expressa de maneira emblemática o sensato equilíbrio entre transformação e preservação ambiental. Convivem, harmonicamente, a maior usina hidroelétrica do mundo, magnífica obra de engenharia humana e a mais deslumbrante e intocada natureza, representada pelo Parque Nacional e as Cataratas do Iguaçu
A Sociedade Brasileira de Bioética, entidades co-irmãs da América Latina e REDE BIOÉTICA da UNESCO convidam todos os companheiros do continente para juntos construirmos uma bioética que privilegie a vida em sua plenitude.
* É médico, presidente do Congresso e coordenador da Câmara Técnica de Bioética do Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR)
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