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Escrito por Silvana Artioli Schellini*

  

Como médica e diretora da Faculdade de Medicina da Unesp, campus de Botucatu, sofri, em 2013, vários sobressaltos, pelos quais nunca anteriormente passei. Ouvi, por exemplo, do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que é quem coordena o atendimento médico à população, várias críticas descabidas ao ensino de Medicina. 

O ministro Padilha afirmou várias vezes que é necessário que o estudante de Medicina conheça o SUS após o término da sua formação. Desde o ano 2000, as escolas médicas estão se adequando às Diretrizes Curriculares estabelecidas pelo MEC, com a instalação de vários projetos como o PROMED, o PRÓ-Saúde e o PET-Saúde que levam o aluno de Medicina desde o primeiro ano para o contato com a população e com o SUS.

A edição da Medida Provisória que institui o programa Mais Médicos é, no mínimo, polêmica e arbitrária. O Governo modificou o texto inicial e desistiu de alguns tópicos, como o que visava tornar obrigatórios os dois anos a mais depois da finalização do curso.

Quanto à participação de médicos estrangeiros no Mais Médicos, o Governo afirma que escolas médicas estarão preparando os mesmos para a nossa realidade, já que, no Brasil, há diferentes doenças, costumes e regras a serem seguidos, dentro do SUS e fora dele. Porém, não são conhecidas as escolas que estão dando este suporte para o Ministério. E este não é o único ponto obscuro do programa.

O Governo comenta que é necessário aumentar o número de médicos no Brasil. É muito importante discutir porque o médico brasileiro não consegue se interiorizar. O fato é que a infraestrutura que o ministro comenta estar toda pronta, toda uma equipe aguardando apenas a chegada dos médicos, não existe!

O Governo insiste em denegrir a imagem do médico brasileiro. Fala que temos preconceito contra o médico estrangeiro! A única coisa que achamos é que há necessidade de conhecer que tipo de formação o médico que se formou no exterior teve. Sem a validação de seus diplomas fica muito difícil considerar sua participação em qualquer cenário, expondo os brasileiros à má prática profissional.

É muito importante ressaltar os pontos controversos desta medida provisória. Primeiro, o critério de aprovação da medida. O ministro citou que a presença dos médicos estrangeiros fará “uma mudança no hábito dos médicos, que passarão a perceber que devem ir todos os dias ao trabalho”! Ora, então o que fizemos nestes anos todos?

Não vamos fechar os olhos. Há problemas. Eles se tornarão mais graves à medida que os médicos que atuarão na periferia das grandes cidades ou nos sertões do nosso país iniciarem suas atividades. Eles irão identificar casos que necessitam de atendimento especializado, sem dúvida. Como ficarão os já abarrotados hospitais? E a falta de leitos? Como esses pacientes serão operados?

Enquanto o Governo gasta um “rio de dinheiro” com o pagamento dos médicos cubanos – verba esta que, em quase sua totalidade, será entregue a um governo totalitário que não aplicará os recursos em benefício da população cubana – os nossos serviços de saúde continuarão sem o básico! Não há gaze, não há esparadrapo, não há antibiótico! Não conseguimos fazer os exames subsidiários para fechar os diagnósticos!

Minha esperança agora é que a população brasileira, este povo que aprendeu a protestar nas ruas, se mobilize, vigie o atendimento que será prestado e que denuncie os problemas com a mesma avidez que o Governo agora usa para denegrir toda uma categoria de profissionais que estão sofrendo diariamente com acusações que não são de sua responsabilidade.

 

 

* É diretora da Faculdade de Medicina da Unesp, Câmpus de Botucatu.

 
    

* As opiniões, comentários e abordagens incluidas nos artigos publicados nesta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do Conselho Federal de Medicina (CFM).

 

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