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Escrito por Celso Murad*

Quando nos referimos às relações humanas, a palavra importar pode ganhar uma conotação no mínimo, desagradável.

Expressão mais afeita ao mercantilismo, relaciona-se mais a produtos, mão de obra (mais para obra que outra coisa), sem jamais apresentar qualidades que a conotem à prática médica.

Nossa grande experiência, nesta área, remonta principalmente aos primeiros séculos da colonização deste País. A mão de obra, oriunda de países africanos, veio para atender novas demandas geradas pela não adaptação dos índios nativos à agricultura sedentária.

Eram escravos, comprados para trabalhar em áreas remotas, do massapé nordestino, às jazidas das Minas Gerais, chegando ao café e algodão, que de certa forma se encontravam em portos que drenavam a produção de São Paulo, Rio  de Janeiro e Minas.

Sem documentos, salário, direitos ou futuro.

Vamos importar milhares de médicos estrangeiros, alardeou a presidente.

Vamos resolver o problema da saúde da nossa população carente. (ninguém aplaudiu?).

Virão médicos cubanos. Sem REVALIDA, ou seja, sem lei, sem salário (Vai para Cuba), sem direitos, sem futuro.

Todos médicos ? Quem confirma?

Merecem nossos colegas cubanos este tratamento ?

Merecem os cidadãos brasileiros uma assistência médica sem garantia, pelo simples fato de serem pobres?

Uma única resposta satisfaz as dúvidas: não.

Alguém pensou que, na possibilidade de dano ao paciente, seria difícil identificar o responsável pela reparação, ou mesmo pela averiguação ética dos fatos?

Fazer Medicina em áreas remotas exige planejamento técnico, logístico e financeiro. Agir de forma aventureira, como se pretende, é, antes de mais nada, desrespeitar a cidadania.

Não reconhecer o direito de brasileiros a uma assistência médica digna de qualidade, como garante a Constituição, é virar as costas às necessidades sociais.

Colocar médicos despreparados, nas chamadas áreas remotas, sem recursos, direitos, e porque não, deveres, é voltar aos tempos dos canaviais.

 

* É médico  pediatra, conselheiro federal pelo estado do Espírito Santo.

 

* As opiniões, comentários e abordagens incluidas nos artigos publicados nesta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do Conselho Federal de Medicina (CFM).

 

 * Os textos para esta seção devem ser enviados para o e-mail imprensa@portalmedico.org.br, acompanhados de uma foto em pose formal, breve currículo do autor com seus dados de contato. Os artigos devem conter de 3000 a 5000 caracteres com espaço e título com, no máximo, 60.

 

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