Escrito por Fernando Weber Matos*
Durante recente fiscalização em hospital do interior, um paciente em traje humilde, ao perceber a movimentação dos fiscais do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers), seguidos pela imprensa, desabafou:
— Vocês, engravatados, nunca resolvem nada. Vão embora, e nós continuamos aqui sofrendo para ter atendimento.
A frase era um protesto, mas, acima de tudo, um pedido de socorro. Assim se sentem aqueles que dependem do sistema público de saúde, cada vez mais precarizado em função do financiamento insuficiente, da má gestão de recursos e, principalmente, do mal que se instalou no Brasil: a corrupção.
Em artigo publicado no dia 9 de agosto, no Zero Hora, a senadora Ana Amélia Lemos cita que a Controladoria Geral da União constatou desvios superiores a R$ 5 bilhões na saúde pública no período de 2012 a 2015 (27,3% do total de irregularidades em toda a administração federal).
O resultado do assalto inclemente aos cofres públicos é o caos em que se encontra a assistência pública à saúde do País, penalizando principalmente a população mais carente. O orçamento muito aquém das necessidades reais, reflexo de uma política que não coloca a saúde como prioridade, diminui ainda mais graças ao desvio de recursos praticado pelos corruptos.
Em suas vistorias de unidades de saúde, a equipe de fiscalização do Cremers depara quase sempre com o mesmo quadro desolador: hospitais, pronto-atendimentos, Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) em situação crítica, todos atravessando enormes dificuldades para manter suas portas abertas com o combalido e reduzido orçamento.
É cada vez mais difícil encontrar um hospital, prioritariamente do Sistema Único de Saúde (SUS), que não apresente graves dificuldades operacionais, falta de medicamentos, materiais e equipamentos, e que não esteja com a remuneração de médicos e trabalhadores em atraso de vários meses – algumas unidades, inclusive, com indicativo de interdição ética da prática médica.
Sem a caneta, sem a chave do cofre e sem poder fiscalizar o destino das verbas públicas, cabe aos “engravatados” do Cremers fazer sua parte na ponta do sistema: defender o exercício ético da medicina e buscar condições adequadas de trabalho e de atendimento.
Cabe a outros “engravatados” equacionar questões que envolvam o aumento do orçamento e a gestão dos recursos, como também dar um basta na corrupção.
* Presidente do Cremers.
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