Escrito por Antonio Carlos Lopes*
Independentemente dos inúmeros problemas que ainda enfrenta, como o grande número de faculdades de qualidade contestável e sem infra-estrutura necessária, a formação médica tem avançado bastante em pelo menos um ponto: na residência médica. De dois a três anos para cá, o Ministério da Educação persegue ininterruptamente a excelência do processo e já são inúmeros os avanços.
As ações da Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) para compor um sistema de avaliação mais rigoroso, para garantir aos estudantes uma preceptoria de qualidade e para acabar com a exploração da mão-de-obra do jovem profissional de medicina são reconhecidas em diversos segmentos. A comunidade acadêmica e as entidades médicas testemunham e elogiam, frequentemente, a mudança de mentalidade.
Claro que os frutos colhidos hoje se devem a importantes sementes, como o comportamento democrático da CNRM que abriu todas as suas instâncias para a participação das sociedades de especialidades médicas, aos conselhos e às demais entidades de classe. Daí, surgiram propostas relevantes e também espaço para a apresentação de críticas para os que, porventura, sentiam-se prejudicados.
O plenário da Comissão, composto por representantes com cadeira garantida por lei, cidadãos do mais alto nível vinculados há anos à residência médica, agiu e continua agindo de maneira sábia, inclusive em situações muito difíceis. No período, o MEC concedeu mais de quinhentas bolsas de residência, reduzindo assim a desigualdade entre as regiões mais e menos favorecidas. Essa característica democrática da CNRM, aliás, merece destaque como fator de inclusão social.
Outro aspecto importante nesse contexto é o diálogo frutífero com o Ministério da Saúde, responsável por grande número de bolsas – principalmente referentes à saúde da família e da comunidade. Esse diálogo permitiu a abertura de programa de residência médica em regiões até então pouco assistidas, atendendo às reais necessidades da comunidade local e beneficiando residentes com um aprendizado em serviço de qualidade e sob supervisão.
A Comissão vem lutando para o reajuste da bolsa do residente, pois tem consciência de que está defasada. Porém, também trabalha com a compreensão de que esse acerto não pode implicar, sob hipótese alguma, em fechar a porta de entrada para a residência médica.
Com ótica progressista calcada em modelo pedagógico eficiente e na necessidade social, a CNRM aumentou a duração de vários programas de residência médica, visando à melhoria da formação e do atendimento aos cidadãos. Sempre trabalhou com o objetivo de propiciar ao médico a elaboração do conhecimento, para que se torne independente e capaz de exercer a profissão com responsabilidade e boa performance em qualquer ponto do Brasil.
Garantir um processo de formação adequado e com tempo suficiente para a incorporação dos novos conhecimentos fez com que a residência desse um salto importante, especialmente por ajudar até a sanar parte dos problemas da má qualidade das escolas médicas. O caminho é este mesmo e não pode sofrer alterações: formar bem aquele que estará na linha de frente do atendimento agora e nos próximos anos é essencial para oferecer à população a qualidade que merece nos serviços de saúde.
* É professor de Medicina da Unifesp.
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