Escrito por Luiz Sallim Emed*
A boa relação com o paciente e seus familiares deve ser sempre preservada e seu rompimento só é possível se o médico identificar fatos que possam vir a comprometê-la indelevelmente. Nessa circunstância, justificadamente, pode recusar a continuidade do tratamento. Contudo, jamais pode abandonar o paciente à própria sorte, especialmente nos casos em que não exista substituto.
Por essas razões, o Código de Ética Médica é rígido ao proibir tal prática, salvo por motivo imperioso. Vale ressaltar que, sob a ótica do paciente, o médico não é apenas o profissional. É, muitas vezes, sua única esperança, aquele com quem pode dialogar nas alterações promovidas pela doença. A ansiedade gera muitos questionamentos, alguns fúteis ou ásperos, que, para alguns, são o bastante para desistir do tratamento do paciente – para o qual este ato é interpretado como abandono de quem esperava solidariedade e compreensão, levando a relação de ambos aos Conselhos de Medicina e, não raramente, ao Judiciário.
O médico deve ter sempre em mente que não cabe ao paciente entendê-lo, mas sim o contrário – este é o ponto em que deve prevalecer sua temperança, mesmo ante um paciente que tem a postura de consumidor de saúde. Portanto, sempre que viável, deve evitar o conflito. Quando isto for de todo impossível, deve orientar o paciente a procurar outro profissional com o qual melhor se adapte, sem imprimir à situação o caráter de abandono.
Por outro lado, se não é recomendável deixar de atender um paciente por motivo banal, é completamente antiético abandoná-lo por ter doença contagiosa ou incurável, exceto por justa causa. Se não mais há condições para curar ou aliviar o sofrimento físico, cabe-lhe consolar e manter-se disponível para o diálogo e aconselhamento.
O médico que mantém uma postura adequada às circunstâncias fica mais próximo da comunidade e fortalece o devido respeito. Não pode esquecer que o doente terminal, excluído de qualquer possibilidade terapêutica, é o que mais precisa de sua presença, não como profissional, mas como amigo e confidente do qual espera, ao menos, solidariedade e conforto espiritual – e nisto reside o princípio fundamental da Medicina.
Enfim, nenhuma adversidade, insatisfação ou intolerância deve interferir na missão ética do médico, que, por sua própria essência, é, sem dúvida, a mais sublime das profissões, pois trata da vida e do combate diário com a morte.
* É clínico, nefrologista e presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Paraná (CRM-PR).
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