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Escrito por Abdon Murad*


O grande e atual problema da aviação civil brasileira, o chamado apagão aéreo, com repercussões graves sobre a vida de milhares de pessoas por todo o País e que vigora há mais de três meses, inquestionavelmente é terrível. Eu já fui vítima do caos que se implantou em nossos aeroportos por três vezes e assim, conheço esta angústia, também, por tê-la sentido na própria pele.

O noticiário brasileiro escrito, falado e televisivo dedica um enorme percentual de tempo e de páginas de jornais e revistas tratando do assunto. Há confusão em aeroportos, brigas, questionamentos na Infraero e nas companhias aéreas, fala-se em indenizações por danos morais etc. Acho que está sendo dada a divulgação que o problema merece, mas, convenhamos, existem fatos mais angustiantes acontecendo neste País, que não têm a mesma repercussão social.

Não existem problemas maiores do que os de saúde, principalmente, quando eles não têm solução rápida e democraticamente distribuída. Não pode haver angústia maior para pais e mães do que passar noites em filas de hospitais com filhos doentes, alguns graves, sem que possam ser atendidos a tempo. Será que existe algo mais grave do que alguém sentir dor, falta de ar, febre, ter um sangramento provocado por acidente de qualquer natureza e não poder ser atendido por completa falta de vaga hospitalar e/ou de condições dignas de trabalho para que os médicos e demais profissionais da saúde possam agir como desejam e sabem?

A marcação de consultas e de exames para daqui a vários meses é o reconhecimento de que no nosso País de terceiro mundo, existe uma parcela da população que pertence a mundo pior, assim como as filas que os pobres são obrigados a enfrentar para serem operados visando o tratamento de doenças graves e que deixam em angústia os pacientes e seus familiares, demorando até três meses. Essas filas, além de vergonhosas, convertem pessoas a uma espécie de sub-raça, sem direitos e sem merecimento de respeito. Estes casos não são suficientemente divulgados pela imprensa nem muito comentados pela sociedade em geral, porque eles não atingem as classes média e alta brasileiras e não dá prejuízos financeiros a empresas de tipo algum. Há como que uma acomodação, um amortecimento de muitos diante dos problemas de saúde de nosso povo pobre e humilde. Parece que o que está acontecendo é uma espécie de ficção e a imprensa raramente divulga essas mazelas de nosso País, com reflexos nos Estados e municípios.

Também não são suficientemente divulgados e não têm merecido cobrança social urgente as filas para ingressar em escolas públicas, para receber licença no INSS, para conseguir a justa e merecida aposentadoria e para tantos outros problemas extremamente graves que nosso povo humilde enfrenta. Algumas autoridades brasileiras ficam como que amortecidas diante da insegurança que campeia em todas as cidades brasileiras e frente à falta de moradia decente para milhões de pessoas. A imprensa deveria comentar mais ainda estes fatos e cobrar soluções para eles. Acredito no enorme poder da imprensa e no encaminhamento de soluções para problemas graves quando ela toma partido na briga e divulga, com a insistência necessária, o que de ruim está acontecendo.

Por acreditar no poder da imprensa é que acho que todos os problemas sociais do Brasil deveriam ocupar, repetidamente, lugar de destaque no noticiário, até que para eles fossem apresentadas soluções ágeis e respeitosas, porque é necessário conclamar a consciência social brasileira para questões tão conflitantes e humilhantes a que é submetida parcela significativa da população.


*Abdon Murad é conselheiro federal e presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Maranhão (CFM).


* As opiniões, comentários e abordagens incluidas nos artigos publicados nesta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do Conselho Federal de Medicina (CFM).


 * Os textos para esta seção devem ser enviados para o e-mail imprensa@portalmedico.org.br, acompanhados de uma foto em pose formal, breve currículo do autor com seus dados de contato. Os artigos devem conter de 3000 a 5000 caracteres com espaço e título com, no máximo, 60.


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