CRM Virtual

Conselho Federal de Medicina

Acesse agora

Escrito por Alan Pitthan*

Em todas as áreas, a revolução tecnológica do final do milênio passado trouxe novas questões, provocando mudanças nas interações da vida (influindo nas relações de comportamento individual e coletivo), provocando reflexões novas, decorrentes das mudanças na capacidade de intervenção no próprio tecido biológico da vida sem, contudo, responder às antigas.

Nesse contexto, deve se inserir a Ética Médica, buscando um novo patamar de interação social que proteja todos os seres vivos envolvidos neste ambiente de constante evolução do conhecimento científico, fragmentado em especialidades, respeitando-se a unidade indissociável do ser humano como ser biopsicossocial na sua integralidade.

Claude Bernard, no final do século XIX, desenvolveu a base teórica da fisiologia contemporânea, situando que o primeiro problema do pesquisador não é remontar à causa primária da vida, mas, principalmente, alcançar o conhecimento das condições físico-químicas determinantes da atividade vital.

Para esta fisiologia, daí decorrente, a determinação das condições de existência dos fenômenos contitui o objetivo da ciência. Ao utilizar as teorias da física e da química na pesquisa médica, e, portanto, no estudo dos fenômenos vitais, apreende também as técnicas de estudo do laboratório, situando-se no espaço dos modelos experimentais e das “condições ideais de temperatura e pressão”, tão distantes da vida e das implicações de suas descobertas.

Simultaneamente, também, é o espaço da promessa de conhecimentos infinitos, de possibilidades sempre maiores de tornar o processo patológico passível de controle. Mas os sonhos de então eram modestos, se comparados atualmente: desvendar os mistérios da produção de insulina e, quem sabe, extrair, de outros mamíferos, um sucedâneo do pâncreas. Estávamos muito distantes ainda dos antibióticos, da engenharia genética e dos CTIs. E mais distantes ainda de perceber que as intervenções salvadoras podem trazer seus próprios riscos. E que, eventualmente, os riscos podem até serem maiores do que os benefícios.

O laboratório se expande, o mundo se torna um grande laboratório. Define-se um normal fisiológico que, absorvendo os fundamentos da estatística, cria um “homem médio”, um normal definido a partir de parâmetros objetivos de funcionamento do organismo humano. Ainda no século XX, o médico reconhece a doença do homem que não se sabe doente. A Medicina Preventiva impõe normas e recomenda comportamentos que evitam doenças futuras, de acordo com estudo de fatores de risco. Agora, é o alarme a partir de estudos da população, da relação científicamente comprovada entre hábitos e doenças.

Em 1962, Rachel Carson, bióloga americana, publicou ”Primavera Silenciosa” e abriu de forma pioneira a discussão sobre o uso indiscriminado de pesticidas e seus efeitos a longo prazo. Em 1962, a Medicina ainda esperava que o DDT transformasse a malária e outras doenças transmitidas por vetores em lembranças do passado. Rachel Carson foi então considerada visionária e alarmista.

A bioética pode ser abordada de várias maneiras, todas elas em princípio válidas, de acordo com as características de seu objetivo, os métodos adotados ou o contexto em que se queira inscrever suas atividades. A bioética pode, por exemplo, ser entendida, de maneira muito geral, como “ética da vida” (que é normalmente a definição dada por dicionários não especializados), ou, de maneira mais específica de “sacralidade da vida” (é o caso da bioética de inspiração religiosa), ou “ética da qualidade de vida”(definição que pode ser considerada característica da bioética secular e laica). Mas pode também ser entendida como uma especificação das implicações morais da práxis humana, considerando-se como “conjunto de conceitos, argumentos e normas que valorizam e legitimam aticamente os atos humanos cujos efeitos afetam profunda e irreversivelmente, de maneira real ou potencial, os sistemas vivos”. Observa-se que a moralidade das práticas humanas que integram o que costumam chamar de biotecnociências – definidas como o conjunto interdisciplinar de saberes teóricos e habilidades tecnocientíficas, incluindo aplicações industriais, referentes a sistemas e processos vivos chamados biotecnologia – pode e certamente deve ser objeto de uma “bioética de proteção”, que pretenda justamente dar conta do impacto, positivo ou negativo, da biotecnociência sobre a vida e/ ou a qualidade de vida das pessoas humanas e ,eventualmente, de todos os seres vivos e ambientes naturais.

Obras consultadas:

1)Bioética – Risco e Proteção – Org.: Fermin Ronald, Sergio Rego, Marlene Braz, Marisa Palácio, Sylvia Vargas. Editora UFRJ Editora Fio Cruz – 2005;

2)Vida Ética – Peter Singer – tradução de Alice Xavier RJ. Ediouro publicação S.A.2002;

3)Desafios Éticos – coordenação José Eberienos Assad. Conselho Federal de Medicina, 1993.

 

* É médico sanitarista.

* As opiniões, comentários e abordagens incluidas nos artigos publicados nesta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do Conselho Federal de Medicina (CFM).


 * Os textos para esta seção devem ser enviados para o e-mail imprensa@portalmedico.org.br, acompanhados de uma foto em pose formal, breve currículo do autor com seus dados de contato. Os artigos devem conter de 3000 a 5000 caracteres com espaço e título com, no máximo, 60.


* Os textos para esta seção devem ser enviados para o e-mail imprensa@portalmedico.org.br, acompanhados de uma foto em pose formal, breve currículo do autor com seus dados de contato. Os artigos devem conter de 3000 a 5000 caracteres com espaço e título com, no máximo, 60.
Кракен даркнет namoro no brasil pinup mostbet apk winzada 777 tiger fortune Fortune Tiger Fortune Tiger Plinko Кракен зеркалокракен ссылка Os melhores cassinos online em melhoresportugalcasinos.com! Bonus exclusivos e avaliacoes e analises de especialistas sobre os novos e melhores cassinos online no Brasil e em Portugal!
Aviso de Privacidade
Nós usamos cookies para melhorar sua experiência de navegação no portal. Ao utilizar o Portal Médico, você concorda com a política de monitoramento de cookies. Para ter mais informações sobre como isso é feito, acesse Política de cookies. Se você concorda, clique em ACEITO.