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Escrito por Solon Casaletti*

  

Muitas vezes só temos noção de um momento importante em nossas vidas após este ter passado, aí podemos lembra-los após algum tempo de distintas formas: “nossa, se eu tivesse feito aquilo diferente…”, ou se tivermos sorte (ou competência) lembrar positivamente de tudo que acertamos. Nesse ponto, não tenho dúvida, estamos passando por uma crise profunda no país, e tudo que definirmos agora irá refletir profundamente em nosso futuro. Na saúde não é diferente, e cabe a todos nós, profissionais da saúde e sociedade, discutirmos as melhores soluções e, principalmente, aprender com os erros do passado. Como diz o ditado: “errar é humano, persistir no erro é burrice”. Observando os comentários em redes sociais, ou mesmo naqueles após alguma matéria sobre o assunto nos principais sites, vemos que existe uma divisão clara: um grupo apoia a classe médica, outros fazem questão que venham os estrangeiros e ainda nos acusam de “corporativistas”, “máfia do jaleco branco”, “filhinhos de papai que só querem enriquecer”, e por aí vai. Creio que numa democracia, toda discussão de bom nível é salutar, principalmente acompanhada de bons argumentos. De outro modo, não terão qualquer relevância e vejo pior, os que fazem isso, na maioria das vezes, usam pseudônimos para não serem reconhecidos.

Estamos observando um governo completamente perdido, despreparado e que encontrou um culpado para os problemas da saúde: o médico, que mesmo com salários altos não se submetem a ir aos rincões do país atender os mais humildes… será isso mesmo? Antes de mais nada gostaria de contradizer algumas opiniões postadas por jornalistas. Ao contrário do que alguns pensam, há muito a classe médica vem lutando por melhores condições de trabalho, carreira de estado para médico e salários dignos; isto não foi inventado do dia para noite. Em relação aos altos salários, são meramente virtuais, primeiro porque são pagos alguns meses, depois o médico recebe calote; segundo que não há qualquer garantia, porque não fomos concursados por estes altos salários, assim não tem FGTS, férias, 13°…

Sabemos que o descaso com a saúde vem de muito tempo antes do PT governar. Porém, mesmo sendo apartidário, minha vida profissional como médico iniciou no fim de 2005 e, portanto, não conheço outro partido no poder. Passam pelos meus olhos uma deterioração progressiva da saúde, com o povo a míngua e a desvalorização de todos profissionais da saúde. E me irrita profundamente esse tipo de governante (ou seria problema de caráter?) de querer colocar a culpa nos ombros dos outros ao invés de admitir os próprios erros e suas incompetências de gestão pública. Sempre fui ensinado desde o berço que se eu quero ser reconhecido na vida isso deverá acontecer pelos meus méritos e não olhando para o fracasso dos outros.

Em tempo, alguém realmente acredita que todos esses problemas (históricos) de má gestão serão resolvidos com a vinda dos médicos cubanos? Claro que o governo quer que acreditemos que virão outras nacionalidades, como portugueses e espanhóis. Meus amigos, não vamos cair nessa falácia! Poderá, eventualmente, aparecer um ou outro médico europeu por aqui, e o ministro pode viajar a Europa gastando mais um pouquinho do dinheiro público para suas viagens, que os mesmos não aceitarão vir trabalhar em lugares sem condições. O que o governo deseja é trazer, em massa, os médicos cubanos, visto o profundo grau de admiração que os líderes deste país têm pela ditadura de Fidel Castro. Sim, ditadura, pois ao que me conste, não há eleição e sequer oposição partidária ao governo daquele país; e ainda acham isso normal e aplaudem! E não vamos ficar de ingenuidade, quem manda lá é o Fidel, assim como a influência dele é direta na Bolívia, Venezuela, passando pela Argentina e agora no Brasil… Mas voltando aos médicos, o esquema funciona basicamente assim: o país que admite os médicos, paga diretamente ao governo cubano, que destinará uma ínfima parte diretamente para o médico, em uma poupança em seu país, atrelando, assim, o recebimento de seus honorários ao retorno ao país (um meio de fazer com que eles não fujam), pagando salários que não chegam a $100 dólares mensais (o que é mais do que ganhariam ficando na ilha) sendo que metade é pago diretamente as famílias. E o restante? Governo cubano! Sim, a exportação de médicos é uma das maiores fontes de renda do governo Fidel Castro, chegando a cifras de $5 bilhões de dólares ao ano. Não vamos nos iludir, não existe nenhuma bondade por parte do governo cubano. Naquele país médico é tratado como mão de obra barata para enriquecimento dos seus governantes, sendo que Fidel Castro tem uma fortuna pessoal estimada de $550 milhões de dólares! Claro que eles mandam ajuda humanitária para outros países, mas outros também o fazem como o Brasil, Estados Unidos, França, Inglaterra…

Por fim, digo e reafirmo: as medidas do governo são meramente midiáticas e populistas. Muitas questionam que “é melhor ter médico do que não ter” ou “o médico tem de estar lá para aliviar o sofrimento das pessoas”. Vamos raciocinar da seguinte maneira: a pessoa é miserável, não tem saúde, educação, transporte, saneamento e etc; um familiar desta pessoa passa mal e morre na minha mão, médico que acabei de chegar nesta cidade, que nada pude fazer. Na hora da eleição, o prefeito vai fazer campanha, bate na porta desta pessoa e diz “veja só, agora conseguimos um médico a muito custo que pelo menos pôde atender seu familiar”, e o pobre coitado vai pensar “realmente, antes eu não tinha nada, agora pelo menos tenho um médico”. Aí cabe a pergunta: de verdade, o que mudou na vida desta pessoa? Ela continua miserável, sem saúde, educação, transporte, saneamento e etc, mas reelegendo todos os mesmos políticos que a mantém nessa condição eterna. Infelizmente se continuarmos nessa toada, só vejo uma saída para os profissionais de bem do país: o aeroporto.

  

* É médico urologista, em atividade no interior de Santa Catarina.

 
  

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