Escrito por Washington Barbosa de Araujo*
A classe médica tem uma forma única de relacionar-se com seus clientes, em comparação com as demais profissões. A relação médico-paciente, baseada no respeito, confiança e no cuidado com o ser humano, proporciona uma visão ampla dos problemas que, em geral, afetam a saúde das pessoas. Na medicina, a atuação profissional possibilita uma ampla percepção das questões sociais, econômicas e políticas que mais afligem a sociedade. Por estas razões, muitos profissionais são convidados por partidos políticos, movimentos sociais, entidades de classe e sindicatos a ingressarem na vida pública.
As mudanças que tanto esperamos nas Políticas Públicas de Saúde e as melhorias das condições de trabalho no exercício profissional da medicina dependem, necessariamente, da agilidade nas decisões do Legislativo. Mesmo com tantos colegas envolvidos na vida pública, os médicos – enquanto categoria – carecem de representantes que tenham o foco na luta por seus interesses no Congresso Nacional. Não há uma bancada alinhada com as questões da classe médica, mobilizada em relação à saúde do povo brasileiro. Ainda persistem diversas lacunas na regulamentação do Ato Médico, a MP 568 que diminuiria o salário dos médicos com vínculo federais e o fracasso da adequada regulamentação da “Emenda 29” – Emenda Constitucional aprovada em 2000, que não contemplou a saúde com aumento das verbas por parte da União.
A maior fragilidade política da classe médica evidenciou-se com a instalação do Programa Mais Médicos sem necessidade de revalidação de diplomas dos médicos formados no exterior e culminou com a recente declaração da presidente Dilma que «Os médicos cubanos são mais atenciosos que os brasileiros». Se fossemos uma categoria politicamente forte e com representatividade no Congresso, certamente tais coisas jamais ocorreriam.
Aliado a estes fatores, observamos comumente nas páginas dos jornais uma série de desvios da ética e de comportamento na conduta da gestão pública. Por outro lado, facilmente podemos concluir que a única maneira de afastar os desonestos da política é ocupando os espaços, ou seja: OU AS PESSOAS DE BEM OCUPAM OS CARGOS POLÍTICOS OU OS DESONESTOS CONTINUARÃO REINANDO SOZINHOS NAS DECISÕES DA VIDA PÚBLICA!
A classe médica, pelo exposto, tem uma oportunidade e, mais, a necessidade de entrar na política. Esta é a única fórmula para promover significativas e concretas mudanças nas áreas da saúde e da educação, o que seria fundamental para desenhar um novo Brasil. Quem não se realizaria em poder participar de forma proativa na construção de um «Brasil Saudável», com saúde, educação, serviços públicos de qualidade e sem corrupção? Este é o anseio de todo brasileiro e de cada um de nós, médicos. Mas como fazer? Como começar? Sozinho não é possível mudar nada. Frases como “detesto política”, “políticos geralmente são desonestos” e outros lugares comuns, embora inquestionáveis do ponto de vista da percepção individual, pouco ajudam para a construção do coletivo. Se não podemos fazer nada sozinhos, unidos poderemos fazer muito pelo país…
Toda eleição é a mesma coisa. A maior parte dos clientes consulta nossa opinião sobre candidatos, e quer saber em quem pretendemos votar. Um médico, num período eleitoral, tem capacidade de captar pelo menos 50 votos, em média. Num breve exercício matemático, observamos que no estado do Rio de Janeiro, onde somos cerca de 80.000 médicos, que multiplicado pelo potencial que cada um tem para captar 50 votos, chegamos à soma impressionante de 4 milhões de votos. Com este total de votos seriam eleitos pelo menos seis deputados federais e um senador. Se incluirmos nesse somatório, os votos contabilizados nas 27 unidades federativas, teremos a maior bancada do congresso: 27 senadores e 162 deputados federais!
O anseio da classe médica por mudanças efetivas necessita da ação facilitadora das entidades médicas e das sociedades de especialidades, mobilizando e divulgando as ações necessárias para atingirmos o nosso grande objetivo: formar uma bancada médica SUPRAPARTIDÁRIA comprometida com os médicos, com a saúde e com o país.
Em breve teremos as eleições de 2014, temos alguns candidatos no país que são médicos e tem a possibilidade real de se tornarem deputados federais e começar a mudar a história da classe na política, valorizando a carreira e criando condições para que a saúde pública seja feita com a qualidade que o nosso povo precisa. Ao conquistarmos um resultado efetivo, estaremos estimulando e mobilizando nossos colegas em todo o Brasil, para juntos trabalharmos na construção de um País melhor para nós e nossas famílias, deixando como legado um Brasil mais fraterno e justo, com os interesses dos médicos e da população adequadamente defendidos, de fato e de direito.
* É mestre em cardiologia pela UERJ, possui título de especialista em Cardiologia SBC-AMB, MBA em gestão de saúde pelo COPPEAD-UFRJ, ex-diretor de Qualidade Assistencial da SBC e atua no SINMED NITERÓI há mais de 15 anos.
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