Cada município tem seu contexto político, seus personagens nos universos tão desafiadores da administração pública e do Legislativo, forças que influenciam no cotidiano da cidade e do campo, além das peculiaridades quanto à estrutura do sistema de saúde e mesmo o perfil epidemiológico e socioeconômico e cultural da população. Cada uma tem um tamanho e uma série de desafios.
É importante que o médico, até pelo seu contato diário com representantes de todos os extratos da população, saiba quais são exatamente os problemas da saúde e identifique, na medida do possível, quem são candidatos mais preparados para promover mudanças e alcançar avanços concretos. Quem são aqueles dispostos a ouvir os médicos e a assumir compromissos com a saúde como um todo.
Entre todos os nossos associados, é possível que alguns inclusive sejam candidatos a prefeito, vice-prefeito, vereador ou apoiem uma determinada candidatura com possibilidade de ocupar o cargo de secretário da saúde, por exemplo. A esses, particularmente, gostaria de lembrar a magnitude do pacto com a saúde de qualidade e a classe médica. Já tivemos um número considerável de decepções neste cenário com pessoas que pediram o voto – e a confiança – dos colegas e, depois, simplesmente se afastaram de suas raízes profissionais.
Por outro lado, um salve a esses médicos que se sensibilizam com as carências e o potencial de suas cidades e se dispõem a dedicar parte importante da vida ao processo político, muitas vezes expondo a si e a sua família em um telhado sempre de vidro. É certo que precisamos de pessoas com essa coragem e desprendimento. E de médicos que nos representem na vereança e no Executivo.
Tanto como atores políticos quanto na posição de eleitores, precisamos ter em mente a defesa do plano de carreira, cargos e vencimentos para os médicos do serviço público municipal e condições de trabalho adequadas para o exercício da profissão. Hoje a maioria absoluta dos municípios não paga sequer a metade do salário mínimo preconizado pela categoria (R$ 9.813 por 20 horas semanais).
Outro problema que tem se tornado grave nas médias e grandes cidades é a violência contra os médicos. Atrair profissionais de medicina para certas áreas periféricas e ali fixá-los ainda tira o sono de muitos administradores públicos. Multiplicam-se os concursos e as vagas não preenchidas. Daí a necessidade de se pensar o atendimento à população de maneira mais global. E investir certo.
Na da atenção básica, principal atribuição dos municípios na saúde pública, ainda temos longo caminho a percorrer. As unidades básicas de saúde infelizmente não apresentam os índices ideais de resolubilidade e os próprios pacientes acabam procurando primeiro os pronto-socorros, de forma desnecessária, o que gera superlotação e mau atendimento.
Fiscalizar como os recursos da saúde estão sendo aplicados também é tarefa para a qual muito os médicos podem contribuir, especialmente os colegas que atuam mais ligados à administração dos serviços.
É saudável que questões como essas permeiem o dia a dia dos cidadãos, antes e depois das eleições, e que os médicos estejam sempre bem informados para fazer os devidos contrapontos, com independência em relação às informações oficiais. Muitas vezes, ao folhear os jornais, poderíamos constatar que, segundo a divulgação dos governos, a saúde vai às mil maravilhas.
Acompanhar a gestão da saúde em nossas cidades e participar das discussões nos diversos âmbitos – secretaria de saúde, conselho municipal, câmara de vereadores, etc – é a maneira mais produtiva de nos posicionarmos quanto aos velhos e aos novos problemas da medicina e da população.
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