Escrito por Marco Aurélio Smith Filgueiras*
A sociedade reconhece que nós médicos somos pessoas bem intencionadas, queremos fazer o melhor pelos nossos irmãos enfermos, e que fomos sacrificados por um sistema injusto, até mesmo desumano em que a saúde foi colocada em nosso país. Temos que lutar pelo nosso ganha pão em desvantagem, na grande maioria das vezes. Precisamos de muitos empregos ou subempregos, vários plantões, muitas viagens, para manter um padrão de vida razoável e digno. Portanto, o nosso tempo é exíguo para darmos atenção a nossa família, aos nossos pacientes, enfim a todos. Mas apesar de tudo isso, precisamos melhorar nossa consulta.
É claro que defendemos a valorização da consulta, a qual, aliás, está em andamento com a adoção da CBHPM (Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos). Mas defendemos também a valorização do atendimento, o respeito pelo nosso paciente. Temos que partir do principio de que as pessoas que nos procuram estão em piores situações que a nossa. Escolhem-nos para um desabafo. Costumamos falar que o medico sempre foi, e continuará sendo o primeiro a ser lembrado e procurado pela sociedade, quando alguém está aflito, seja qual for o motivo, socioeconômico (dificuldades financeiras, perda de emprego, cargo); familiar (desentendimentos, morte); conjugais (separações, divórcios), etc.
Expressam essas aflições através de queixas como cefaléia, ansiedade, depressão, tonturas ou vertigens (impropriamente chamada de «labirintite»), distúrbios digestivos (os pacientes já nos procuram falando em «gastrites») e vários outros.É aí que precisamos melhorar nossa consulta, ouvir mais as queixas dos nossos pacientes. O grande diferencial entre os médicos nos dias de hoje, não está na sua competência adquirida durante sua graduação, pós-graduação, especialização, mestrado e doutorado às vezes até no exterior, para chegar ao diagnostico e tratamento dos sintomas ou das «doenças» (não existem doenças e sim doentes) e sim na sua tolerância em escutar ou na sua paciência em ouvir.
Hoje em dia, as pessoas estão necessitando de serem olhadas, escutadas e tocadas. Não estamos fazendo um favor em atender nosso cliente, devemos até mesmo agradecer por estar nos procurando. Não é nosso objeto e sim nosso objetivo. Não está tomando nosso precioso tempo, devemos tratá-lo como nosso amigo e não como inimigo.Ficamos muito apreensivos e temerosos com a constante implantação de novas Universidades, novas Faculdades, novas Escolas Médicas que diplomam pessoas à principio bem intencionados, mas que não são devidamente preparados para exercerem a Medicina como realmente deve ser exercida «com humanidade». Aliás, as Escolas Médicas sempre nos ensinaram erroneamente a não nos envolvermos com o nosso paciente, para não sofrermos caso, por exemplo, chegue a óbito.
Não se admite atender um ser humano sem sequer olhar para ele. É grande o numero de reclamações: «Fui atendido por um doutor que sequer olhou para mim».Quem quiser construir uma boa clientela, um conselho, especialmente para o jovem médico, leve em conta o que acabamos de dizer, exerça uma Medicina Humanitária. Quem quiser destruir-se, um alerta para os mais experientes, faça o contrário.
Aprendemos nas escolas de Medicina como abordar inicialmente o nosso paciente, usando perguntas tradicionais: «Qual sua queixa»; «O que sente?».Nos prática médica moderna, estas perguntas deveriam ser substituídas por outras, como: «Em que posso ajudá-lo? E depois para o conhecermos melhor e facilitar o relacionamento, levantar uma questão que reputo fundamental, que fazem as mulheres caírem em prantos: «Como é sua vida?». Nos dias modernos, o cidadão está mesmo sofrendo de padecimentos existenciais, e a palavra mágica que ecoa em todos os cantos é Stress ou Estresse.
Este mal está provocando uma corrida desenfreada, uma avalanche de consultas, uma peregrinação pelos consultórios médicos de todas as especialidades. Ao consultório do gastroenterologista vão as gastrites, esofagites, refluxo gastroesofágico, úlceras; ao consultório do dermatologista, as psoríases, vitiligos, eczemas, herpes, prurido; o reumatologista é procurado por dores na coluna, artrites, fibromialgias; o cardiologista é solicitado devido a arritmias, hipertensão arterial, infartos; o otorrino por sinusites, tonturas, vertigens; ao consultório do neurologista se dirigem os portadores de cefaléia, insônia, ansiedade, depressão, esquecimento, assim por diante. Todos, vítimas do distúrbio do século e do novo milênio: STRESS. Qualquer que seja a especialidade devemos conversar, perguntar e ouvir.
Antes de medicar, deveríamos entender primeiro aquela pessoa angustiada. Não devemos esquecer especialmente no atendimento de idosos com inúmeros distúrbios e doenças (diabetes, hipertensão, cardiopatias, artroses, etc), que tomam às vezes oito, dez ou mais diferentes fármacos, de anotar, listar todos estes, para evitar ou mesmo administrar uma inevitável interação medicamentosa. Sim, estamos esquecendo dos efeitos adversos dos medicamentos. Estamos chegando ao cumulo de tratar efeito adverso de uma determinada medicação, com outra medicação, pelo simples fato de não termos anotado os inúmeros medicamentos que aquele paciente vem tomando. Às vezes a melhor conduta é retirar imediatamente se puder, ou através de desmame um, dois, até três remédios prescritos.
Meus colegas estamos aqui neste planeta para aprender, sabemos muito pouco ou quase nada. O filósofo grego Sócrates expressou muita bem esta afirmação ao dizer: «Só sei que nada sei». Particularmente, gostaríamos de viver muitos e muitos anos, para aprender sempre um pouco mais para ajudar mais. Quem não vive para servir não serve para viver. Agradecemos a todos vocês e vamos juntos fazer uma reflexão sobre o que dissemos e para o bem de todos e felicidade geral dos pacientes vamos dizer e prometer a nós mesmos: à partir de hoje vamos mudar.Obrigado, muita paz e que Deus continue iluminando a todos.
*Neurologista e conselheiro do Conselho Regional de Medicina do Estado da Paraíba (CRM-PB).
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