Escrito por Solimar Pinheiro*

A singular necessidade humana de se cercar de garantias para se sentir seguro na caminhada diária da sobrevivência faz-nos acreditar que aviões não caem, que o sistema de administração da saúde do povo brasileiro funciona e até que existem fadas, se o tema abrange sentimentos. Entretanto, esse sentimento que pode enlevar e produzir visões de sininhos pairando no ar é o mesmo que se transforma e, num crescendo, se dissemina em desamparo, desespero até ficar próximo da revolta quando são evidenciados desmandos e descasos com que são tratadas instituições públicas como os aeroportos e, por analogia, a saúde do país.

Descaso com a saúde. Essa é a certeza que fica quando nos hospitais o atendimento resulta mais do esforço do profissional médico que, quando não tem à mão material adequado – como um fio de sutura apropriado, por exemplo – para levar a bom termo um atendimento, improvisa tentando minorar o sofrimento do paciente. E improvisa mais quando, no sacerdócio a que se entregou, esquece de si, dos riscos a que expõe seu nome, seu CRM, a algum possível processo que possa ocorrer por causa da improvisação.

Até quando? Até que o reverso se apresente irreversível, fazendo o avião desobediente? Ou até que um transponder seja religado? A saúde brasileira e, por conseqüência, a saúde tocantinense pede mais, exige mais, porque seu limite de garantia de funcionamento normal há tempos foi ultrapassado. Não há mais como sustentar esse airbus no ar, mesmo com toda a dedicação e improvisações dos profissionais médicos.

Os médicos do Tocantins e do Brasil exigem “a regulamentação, em caráter de urgência, da Emenda Constitucional 29, que estabelece a fixação das ações em saúde, a destinação obrigatória de recursos por parte da União, estados e municípios, e, principalmente, quais gastos podem ser efetivamente considerados como investimentos no setor. Ressalte-se que essa regulamentação é imprescindível para combater desvios hoje verificados em todas as instâncias de governo. Atualmente, a EC 29 não é cumprida por, no mínimo, 18 estados e por mais de 2.000 municípios brasileiros. As conseqüências são o deficiente atendimento aos cidadãos, as precárias condições de trabalho para médicos e demais profissionais de saúde, a situação de penúria da rede de atendimento e a ameaça de falência de muitos hospitais que priorizam suas ações para o SUS”. (XI ENEM – Carta aos brasileiros).

Enquanto o holocausto em que se transformou o avião da TAM – uma câmara fechada de onde não saiu gás, mas uma temperatura próxima dos 1.000 graus – ceifou, de um só golpe, centenas de vidas, o sistema de saúde brasileiro sorrateiramente, sem alardes, sem manchete sobre os motivos ou motivadores, vira bicho que aos poucos mata, todos os dias, brasileiros e tocantinenses. Morrer é uma condição do viver, mas morrer dignamente, confortado pelos familiares e assistido pelo seu médico e, não, sufocadamente afivelado a uma cadeira. E, não, forçadamente subordinado a um sistema de saúde ineficiente e deficitário que pede socorro. Urge que verbas destinadas aos sistemas vitais do país sejam efetiva e convenientemente aplicadas, principalmente na área da saúde que, tal como os aeroportos brasileiros, está sucateada, defasada, com superlotação em todos os seus “aerohospitais” e em busca de boas condições climáticas para que possa ‘voar’ com um atendimento de qualidade ao brasileiro, ao tocantinense. Irmanando-nos ao sentimento dos familiares, os herdeiros da dor e da saudade dos seus rostos queridos que se foram no recente acidente aéreo, deixamos a pergunta: qual afazer nos ocupa tanto que parece estarmos perdendo o poder de escolha dos nossos próprios destinos?

 

* É médico do trabalho.

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